Secretaria da Cidadania promove competição e quer popularizar o skate em Corumbá

Há quem diga que o skate é um dos esportes mais praticados no Brasil, logo atrás do futebol. No entanto, apesar de vários adeptos, a modalidade é desvalorizada. E parte disso, causada pelo preconceito do estilo de vida de quem gosta e pratica, pelo pouco patrocínio e também porque os praticantes são muitas vezes vistos somente como amadores, dificultando a profissionalização. Segundo a Confederação Brasileira de Skate (CBSk), dentro do país são cerca de 8,5 milhões de skatistas, em última pesquisa divulgada pelo Datafolha em 2016. O número dobrou, em relação a 2010, que indicava 4 milhões de praticantes.

Em meio ao crescimento de adeptos ao esporte, presente no dia a dia da população corumbaense, na tarde de domingo (18), aconteceu o 1º Campeonato de Skate da Juventude, no Complexo Poliesportivo, localizado na rua Porto Carrero, em Corumbá. O evento foi promovido pela Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria Especial de Cidadania e Direitos Humanos, através da Coordenadoria de Políticas para a Juventude.

De acordo com Beatriz Cavassa, secretária da pasta, eventos como esse ajudam a incentivar os jovens atletas e a mudar a visão equivocada que muitas pessoas têm do skate. “É uma modalidade esportiva da juventude como outra qualquer. A gente está buscando mostrar a sua importância. Tem muitas famílias que compareceram, pais que vieram para dar apoio a seus filhos. É isso que a gente quer trabalhar, justamente para mudar a visão ruim dos skatistas e do esporte”, frisou ao Diário Corumbaense.

O evento contou com a presença de jovens skatistas de várias idades e cidades do estado, famílias e admiradores do esporte. A competição contou com disputas nas categorias mirim, iniciante, amador e feminino. Um dos mais novos competidores foi o Carlos Cassiano, de apenas 6 anos. Ele começou a andar de skate com 4 anos por causa do irmão mais velho, Luiz Henrique, de 12 anos. Mas, quem seguiu praticando sozinho foi ele, que atualmente tem apoio do tio, André Luiz, que o leva todos os dias na área de skate do Complexo Poliesportivo para treinar, após a escola. “Ele foi campeão mirim no ano passado. Nesse ano, ficou em segundo em uma competição. Muitos skatistas dizem que Carlos tem jeito para ser atleta profissional”, disse André.

Ainda de acordo com ele, o número de crianças aumentou na pista de skate da cidade. “Os pais têm trazido mais os filhos para cá, de 8 a 10 anos, mas alguns ainda acham que eles podem ser envolver com droga e ficam com o pé atrás com o esporte”, contou. Mesmo chamando atenção pelo talento precoce, é difícil conseguir patrocínio no estado. “É trabalhoso para conseguir apoio. Se conseguirmos, quero levar o Carlos para competir em Aquidauana ainda esse mês, e no futuro para São Paulo”, planeja André Luiz.

Exemplo

A aluna do Sesi, Cellia Eduarda, de 16 anos, foi uma das participantes da categoria feminina do campeonato. Ela nasceu em Campo Grande, mas mora em Corumbá desde pequena e há três anos começou a andar de skate na cidade. Apesar de ter ficado parada por um tempo por causa da escola, a jovem voltou a praticar o esporte e participar de competições. “Não vou com intenção de ganhar, mas para participar mesmo. Para mostrar o desenvolvimento e contar com a presença de meninas no esporte, porque são poucas que aparecem. É uma forma de incentivá-las também”, disse. “Eu sempre gostei de skate, sempre quando dá tempo eu ando. Ainda apoiam mais os meninos, mas meninas também praticam”, ressaltou Cellia a este Diário.

Skate como estilo de vida

Com 17 anos, Pedro Rodrigues, estudante da Escola Estadual Nathércia Pompeo dos Santos, anda de skate há dois anos. Ele tem apoio da família e participou pela primeira vez de uma competição, na categoria iniciante. “Venho quase todos os dias treinar na pista. No começo, minha família não gostava muito, mas agora eles apoiam”, disse. Quando era pequeno, Pedro ganhou um skate da prima e apesar de gostar do esporte foi com apenas 15 anos que começou a aprimorar as manobras. “Skate é um esporte, uma atividade física, a competição ajuda a gente a ficar melhor e todo mundo sai ganhando”, destacou.

O skatista, Thalles Raphael, de 32 anos, pratica o esporte há pelo menos 18 anos. Ele é dono de uma loja de skate, em Aquidauana, e veio com mais três pessoas participar do campeonato. Ele é um dos responsáveis por organizar competições em Aquidauana, e sempre quando pode vem para Corumbá competir. “Treino todos os dias. No passado, comecei a participar de campeonatos. Ganhei o primeiro lugar na categoria amador em Anastácio e fiquei em terceiro aqui na última competição”, disse. Thalles ressalta ainda que as competições e o fato do skate virar uma modalidade olímpica ajudam a desmarginalizar o esporte. “Promovo 4 a 5 eventos por ano em Aquidauana para os skatistas do estado, e já vi corumbaenses lá”, acrescentou.

O estudante da escola Júlia Gonçalves Passarinho, Luan Rios, de 17 anos começou com 12 anos a andar de skate nas pistas da cidade. Ele já competiu mais de 10 vezes aqui mesmo e em Campo Grande e Aquidauana. Segundo o corumbaense, ele já foi premiado 11 vezes, sendo cinco na categoria iniciante. “Comecei a gostar de skate na escola, aí eu me interessei e pedi para o meu pai comprar um para mim”, disse.  Com intenção de ser skatista profissional, Luan reforça que ainda existe preconceito. “As influências ruins só acontecem com quem deixa”, comentou. Apesar de ser um dos esportes mais praticados no Brasil, Luan ressalta ainda que em Corumbá falta mais apoio. “É raro ter campeonato aqui. Antes tinha só um, agora temos dois por ano”, frisou.

Quase sessenta competidores participaram. Na categoria mirim, o corumbaense Gabriel ficou em primeiro, com Cassiano em segundo e Leonardo Gadioli, de Ladário, em terceiro. Na iniciante, o vencedor foi Ian, com Josué em segundo e Gabriel em terceiro. Todos representaram Corumbá. O também corumbaense Geazio venceu a amador, com Thalles, de Aquidauana, em segundo, e Luan Rios em terceiro. No feminino o pódio teve Cellia em primeiro, Aline Amorim, de Aquidauana, em segundo e Linda em terceiro.

Esporte Olímpico

A partir de Tóquio 2020, o skate fará parte do programa olímpico, de acordo com o comunicado do Comitê Olímpico Internacional (COI). Os Jogos Olímpicos de Tóquio terão cinco novos esportes. A partir da próxima Olimpíada, beisebol (junto com o softbol, versão feminina do esporte), surfe, skate, caratê e a escalada estarão dentro da competição. A decisão foi anunciada durante o 129º congresso anual da entidade, que ocorreu no Rio de Janeiro em 2016.