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Com apresentações de siriri e cururu, Moinho Cultural celebra os 99 anos de “Seu Agripino”

Da Redação em 09 de Junho de 2017

Fotos: Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Artesão e músico, seu Agripino ficou feliz com a festa preparada pelos alunos

A tarde de quinta-feira (08) foi de festa no Moinho Cultural de Corumbá. Uma reverência aos 99 anos do mestre cururueiro Agripino Soares de Magalhães, que recebeu toda a energia positiva das crianças e assistiu apresentações de cururu e siriri, apresentadas pelo Moinho e pela Secretaria de Cultura de Ladário. “Seu Agripino é nosso mestre do Saber, desde a inauguração do Moinho, em 2004. Já tivemos aulas de viola-de-cocho várias vezes. Conseguimos formar um professor com o seu Agripino, que é o Maycon, e queremos dar continuidade a essas oficinas. Temos o grupo permanente do cururu e do siriri e acreditamos que apesar da base do Moinho ser a música erudita, clássica, não perdemos nossa raiz, jamais deixaremos de representar nossa raiz. Seu Agripino é único para o Moinho”, explicou ao Diário Corumbaense a fundadora e diretora executiva do Instituto Moinho Cultural Sul-Americano, Márcia Rolon.

Bailarina e fundadora do Moinho Cultural, Márcia Rolon destacou a importância de seu Agripino em sua carreira profissional

Márcia estava muito emocionada e lembrou que seu início de formação na música e na dança, teve participação de seu Agripino. “Desde os 11 anos de idade ele me ensina sobre o cururu e o siriri. Minha mãe tinha uma academia de dança e levava os cururueiros para se apresentar, para ensinar as danças. Recordo que nos davam aulas de sapateio do cururu, os poemas do cururu, as músicas do cururu e Santa Fé, que é uma dança que se perdeu com o tempo. Um dos projetos que o Moinho tem é a Santa Fé, uma dança de fazenda. Seu Agripino faz parte de minha vida e isso é muito forte”, lembrou.

Agripino Soares completou 99 anos neste 08 de junho. Ele contou que hoje deixa  a viola-de-cocho guardada e toca somente em data especial, como o seu aniversário. “Chegar aqui e ver essa festa é uma alegria. Não pensei que aguentaria chegar até essa idade, mas cheguei. Estou satisfeito de ver tudo isso pra mim,  estou satisfeito com toda essa homenagem, apesar de que hoje mal toco na viola, mas em datas especiais eu toco, lembro algumas músicas, é minha vida tudo isso”, salientou ao Diário.

O mestre curureiro afirma ainda ter vontade de ministrar mais oficinas de viola-de-cocho, para que a tradição não se perca. “Tenho mais de 300 violas em Corumbá, fora as que eu vendi para outros Estados, fora do país. Quero deixar mais pessoas sabendo fazer a viola, quero ensinar mais crianças a cantar cururu e siriri. Não tenho mais a mesma energia, mas ainda tenho vontade, é só me chamar que vou ensinar”, disse sorrindo.

Seu Agripino teve oito filhos e duas filhas e nenhum deles aprendeu a tocar o instrumento

Uma vida de dedicação à cultura pantaneira

Agripino Soares é músico pantaneiro e construtor de viola-de-cocho, é uma das referências quando se trata da música sul-mato-grossense. O cururueiro é uma das únicas pessoas vivas no Estado de Mato Grosso do Sul aptas a construir artesanalmente uma viola-de-cocho, feita a partir de um tronco de madeira inteiriço. A viola é o principal instrumento utilizado para tocar cantigas que acompanham as danças típicas: cururu e siriri, que são apresentadas em festas tradicionais e festejos religiosos de regiões do Pantanal.

Seu Agripino teve oito filhos e duas filhas e nenhum deles aprendeu a tocar o instrumento. O músico é aposentado como estivador, e conta ter aprendido o ofício com o avô e feito mais de 300 violas, sempre seguindo os padrões e as superstições que regem a fabricação da viola-de-cocho, que é tombada como patrimônio histórico e cultural.

Um dos saberes fundamentais para a fabricação da viola é que a árvore seja cortada na lua minguante, se isso não for feito, a madeira fica cheia de furos. Depois de escavado em forma de viola, o tronco recebe um tampo, o cavalete, as tarraxas e as cinco cordas.

A viola-de-cocho tem cerca de 70x25 cm de dimensão com 10 cm de espessura. Agripino conta ainda que as cordas eram de tripas de animais, como bugio, bode e quati. A prática foi proibida, e hoje as cordas são de náilon mesmo.
No ano de 2008, Agripino foi homenageado no 5º Festival América do Sul (FAS), por ser um colaborador nato à cultura corumbaense e pantaneira. O cururueiro ainda foi vencedor do Prêmio Culturas Populares 2009 realizado pela Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura.
 

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