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Quatro em cada dez casais brigam por causa de dinheiro, diz pesquisa

Caline Galvão em 03 de Março de 2017

Discutir sobre finanças não é tão raro dentro de casa, principalmente em épocas onde o poder de compra está mais baixo. De acordo com pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), 39% dos casados ou em união estável brigam por causa de dinheiro. Na pesquisa, foram entrevistados 606 consumidores de todas as classes sociais em todo o País.

Em Corumbá, a secretária Raquel Fernandes, de 43 anos, discute em casa sobre finanças por sentir a necessidade de ter uma reserva de dinheiro. Ela e seu marido costumam conversar bastante sobre orçamento doméstico. “Sempre que necessita, a gente conversa porque às vezes aparecem imprevistos e é nessa hora que aparece a questão da reserva, mas ele não gosta de guardar dinheiro e a gente briga por causa disso”, contou ao Diário Corumbaense. Conforme pesquisa levantada pelo SPC e CDNL, Raquel não está sozinha com esse tipo de preocupação. Dos casais que discutem sobre dinheiro, 32% o fazem por causa da reserva financeira. 

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

70% das famílias dos entrevistados na pesquisa têm o hábito de conversar a respeito dos gastos

Quando consideradas as decisões sobre o orçamento familiar, 70% das famílias dos entrevistados na pesquisa têm o hábito de conversar a respeito dos gastos e em 25% dos domicílios elas são divididas igualmente entre os que possuem renda, em 21% são divididas de acordo com os rendimentos de cada morador com renda. Na casa de Raquel, o pagamento das contas é dividido, mas o marido paga as mais pesadas. “Mas tem mês que a gente concilia e paga junto”, afirmou a secretária.

Quando sobra dinheiro, o casal pensa bem sobre o que pode ser feito com ele, mas não está conseguindo poupar no momento atual. “Quando a gente comprou o carro, já aconteceu de adiantar uma parcela, mas depois que terminou o pagamento do veículo, quando sobra dinheiro a gente gasta no momentâneo, não estamos poupando”, disse. Nos lares brasileiros, o principal destino do dinheiro que sobra é a utilização para o mês seguinte (24%), seguido de algum gasto pessoal (18%) e poupança pessoal (14%). Mas 20% dos entrevistados na pesquisa nacional afirmam que nunca sobra dinheiro.

A vendedora de calçados Juliane Mendes Jard, de 35 anos, também moradora de Corumbá, quase diariamente conversa sobre orçamento doméstico com seu marido, que é auxiliar de faturamento em supermercado. A maioria dos assuntos é referente aos gastos da casa, contas mensais e semanais, mas o casal não chega a brigar feio sobre dinheiro. “Já aconteceu, mas de uns tempos para cá estamos mais centrados e tentamos conversar, dialogar, brigas não”, afirmou Juliane a este Diário.

Na casa da vendedora, quando sobra dinheiro, o primeiro objetivo é tentar poupar. “Nem sempre acontece, já aconteceu de poupar, mas agora estamos mais apertados. A gente poupa mais para o final de semana, quando a gente quer sair, ir para um balneário, fazer alguma coisa desse tipo. Mas poupança a longo prazo, no momento não estamos conseguindo”, afirmou Juliane. Contas como água, luz, telefone, internet, compras do mês e aluguel ficam para o marido.

Esconder salário e gastos pessoais não é bom para o casamento, diz economista

A pesquisa concluiu também que 40% dos brasileiros casados ou em união estável não contam sobre todas as compras ao cônjuge. Entre os gastos mais omitidos estão roupas (35%, principalmente entre as mulheres, 48%), maquiagem, perfumes ou cremes (30%, com destaque entre as mulheres, 59%), calçados (28%), cigarros, bebidas e substâncias ilícitas (20%, sobretudo entre homens, 28%).

“Já fiz isso várias vezes”, confessou Raquel Fernandes. “Eu acho que comprar escondido bobagens como lingerie e sapatos, isso aí eu já fiz”, disse. A vendedora Juliane Mendes também afirmou já ter ocultado compras. “Mas, agora, tudo que compro eu comunico a ele porque chegou uma época que eu não comentava sobre as compras e na hora de pagar eu não conseguia, então isso gerava discussão. Tenho me policiado bastante porque antes eu comprava compulsivamente”, afirmou Juliane. Roupa, calçado, maquiagem e perfume estavam na lista das aquisições impulsivas da vendedora.

Segundo Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, esconder os gastos do parceiro não é a melhor opção, seja qual for o motivo. “Com a omissão, algum dos lados pode se sentir enganado e, se isso acontecer, o relacionamento pode ser abalado. Além disso, gastos omitidos também podem prejudicar o equilíbrio do orçamento familiar. É importante que o casal saiba de todas as despesas para manter um bom controle financeiro”, recomendou.

No casamento de Raquel, a questão salarial é bem aberta entre o casal. Os dois sabem quanto cada um ganha. Ela acredita que essa sinceridade no relacionamento é fundamental. “Eu acho isso muito bom. Eu sei que têm muitos maridos que se sentem constrangidos quando a esposa ganha mais que ele, só que eu acho que deveria ser um assunto que os casais deveriam conversar mais, ainda mais quando a gente pensa em construir algo melhor no futuro, isso precisa ser discutido sim”, opinou Raquel.

O caso de Juliane também é parecido, tanto ela quanto o marido sabem quanto cada um ganha. “Acho isso importante porque tem que ser tudo dividido pelos casais atuais porque os custos das coisas estão tão altos que não adianta a gente tentar ocultar esse tipo de informação. Isso tem que ser conversado e eu demorei um tempo para entender isso e eu sei que esse assunto dá problema, tem que conversar, fazer planilha. Como ainda sou muito ‘gastadeira’, tem que colocar tudo no orçamento porque se não vai ficar apertado e dinheiro acaba interferindo na relação. Não é legal ficar brigando por causa de dinheiro”, ponderou Juliane Mendes.

Diferente do que acontece nos lares de Raquel e Juliane, o estudo desenvolvido pelo SPC Brasil e CDNL mostrou que quatro em cada dez entrevistados casados (39%) não sabem exatamente quanto o cônjuge ganha por mês e também 39% não sabem se o parceiro possui aplicações ou investimentos. Por outro lado, 24% sabem todos os valores e 23% aplicam em conjunto. Além disso, 34% dos cônjuges dos que responderam à pesquisa não sabem ou não sabem ao certo quanto estes ganham por mês.