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Evasão acelerada preocupa docentes e alunos do Campus do Pantanal

Nelson Urt - Agência Navepress em 27 de Julho de 2015

Pesquisas recentes mostram que, em 2014, apenas 50% dos que iniciaram os cursos conseguiram se formar na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus do Pantanal. São quase 500 alunos que desistiram dos cursos nos últimos três semestres. Muitos migraram para outras faculdades e cursos, outros trancaram a matrícula e outros simplesmente desapareceram. O índice de evasão é crescente, preocupante e tende a se agravar com a crise econômica no País. Para apontar propostas e soluções, um grupo de professores, técnicos e acadêmicos da UFMS e do Instituto Federal de Tecnologia (IFMS) reuniram-se em mesa redonda no auditório do Bloco H do Campus Pantanal, em Corumbá, dentro do movimento “Greve pela Educação”.

A evasão registrada no primeiro semestre deste ano, quando se matricularam 1.679 alunos no Campus do Pantanal, foi de 324 alunos, mais que o dobro dos semestres anteriores, o que representou percentual de 19,24% de afastamentos, acima da média das universidades federais do País. No segundo semestre de 2014 a evasão foi de 129 alunos para um total de 1.613 matriculados e no primeiro semestre do mesmo ano foi de 45 alunos diante de 1.783 matriculados.Em três semestres, o índice de evasão chega a 498 alunos. “O fato é que temos uma evasão que é preocupante e será maior em tempos de crise, muitos pais estarão fora do mercado de trabalho e não poderão manter os filhos em cursos de período integral”, afirmou o professor do curso de Psicologia, Ronny Machado de Moraes.

Agência Navepress

Em debate organizado por professores em greve, evasão foi discutida por acadêmicos e docentes

Muitos alunos migram para faculdades particulares, buscando uma colocação mais rápida no mercado de trabalho e cursos de menor duração. A uma quadra do Campus do Pantanal, uma faculdade particular anuncia em outdoor mensalidade inferior a R$ 60 para um de seus cursos. A propaganda foi citada durante o debate acadêmico como sinal de ameaça ao ensino público, que já está terceirizado em diversos setores e vive sob a constante ameaça de privatização.

A crise atinge em cheio a UFMS Campus do Pantanal, que chegou a ficar três meses sem pagar a conta de energia elétrica e outros três meses sem pagar a conta da água fornecida pela Sanesul, por falta de repasses federais. Dos cortes anunciados pelo governo federal, R$ 9 bilhões atingiram a Educação. Existem 63 universidades federais no País, que representam cerca de 85% da produção científica, diante de 2.300 instituições de ensino, entre as quais muitas particulares. “E as faculdades privadas, não devemos esquecer, transferem conhecimento e visam diretamente o mercado de trabalho, para maximizar o lucro”, destacou o professor Ronny Moraes.

Para a professora da UFMS, Ana Maria Santana da Silva, dirigente regional da Adufms (Sindicato dos Professores das Universidades Federais), existem problemas estruturais responsáveis pela evasão. “Nas últimas décadas, o Brasil ampliou o número de vagas, e quando há expansão há também aumento da evasão, problemas antigos do ensino médio se refletem e ganham mais evidência”, opinou.

“Quem está ficando é quem recebe financiamento dos pais ou tem outra renda fora, porque na universidade não temos visão do futuro.A gente vê que a educação se tornou um mercado; os tecnólogos se matriculam para sair visando colocação no mercado. E isso gera crise como no curso de Geografia, que só tem um aluno matriculado. É muito raro entrar em escola do ensino médio e ter pessoas com perspectiva de fazer licenciatura. Faltam políticas assistenciais na universidade para manter o aluno até o fim do curso e evitar a evasão, principalmente para os que vêm de fora”, disse Rafael de Almeida Silva, acadêmico do curso de Ciências Sociais da UFMS.

Já para Agnaldo Gomes - técnico administrativo do Campus Pantanal, “a universidade sentiu muito com  a criação do Sisu em 2010. A Universidade Federal de Pernambuco, por exemplo, foi a quarta universidade que mais recebeu inscrição via Sisu, mas a taxa de evasão dela chegou a 30%. Agora o sistema mudou, mas antes o acadêmico com uma única nota concorreria a várias bolsas no Brasil inteiro, e para não perder o ano escolhia o curso, mas depois acabava desanimando. Além da questão socioeconômica, percebi que a má escolha do curso é mais forte. Faz o curso que a nota (do Enem) deu.”

Curso de Geografia reflete crise e má escolha

Com apenas um aluno matriculado no primeiro semestre, o curso de Geografia na UFMS Campus do Pantanal é citado por professores, técnicos e alunos da UFMS e IFMS como reflexo da crise socioeconômica que atinge a educação superior, que passa por uma série de cortes de recursos, mas outros motivos podem estar por trás do índice negativo, como a falta de políticas assistenciais, de uma melhor infraestrutura que aumente o interesse dos alunos pela universidade, e melhor preparo do aluno no ensino médio para a escolha do curso ideal.

Docentes e estudantes encaminharam, após discutirem causas e soluções para a evasão no Campus do Pantanal, uma série de propostas para evitar o “desaparecimento” de alunos que mais tarde devem ser encaminhadas a Brasília. Uma das principais propostas é a construção de um refeitório com preço acessível como o da UFMS de Campo Grande, com a condição de que seja mantido o auxílio alimentação para o aluno. O restaurante funcionaria, como na Capital, de segunda a sexta-feira. Na UFMS de Campo Grande o preço da refeição é R$ 7,60, considerado alto.

Outra questão levantada é a necessidade urgente de moradia para os alunos que vêm de outras cidades. O alojamento seria construído em área cedida pelo Município e mantido com recursos federais. Professores lembram que em 2014 foram repassados R$ 11 milhões de recursos, mas a maior parte da verba foi destinada às bolsas.

Os participantes propuseram também maior flexibilidade dos currículos, de forma que uma mesma disciplina possa ser estudada em diferentes cursos. Além disso, foi proposta a migração de cursos, de forma que seja possível transferir alunos internamente, evitando assim o aumento de evasão. No momento, o aluno só consegue uma transferência de curso se for para outra unidade da UFMS no Estado.

O teste vocacional, oferecido pela UFMS para alunos do ensino médio, ajudaria na escolha do curso e evitaria a evasão. Outro reforço seria a definição do perfil do aluno ingressante na universidade, para que as políticas assistenciais possam ser bem dirigidas. No caso do Campus do Pantanal, há uma grande parcela de militares, alunos com diploma e já inseridos no mercado de trabalho.

A bolsa permanência é de R$ 400 e o auxílio alimentação é de R$ 238, com média de R$ 638 mensais para o aluno, mas o alto custo de vida em Corumbá ainda é colocado como obstáculo à permanência do aluno na universidade. A moradia gratuita ajudaria a equilibrar as despesas.

O alto índice de evasão também é relacionado às baixas notas de corte no Campus do Pantanal. Pode fazer com que o aluno escolha o curso de acordo com a nota, em vez de fazer uma escolha coerente e de acordo com seus projetos e vocação. Pedagogia teve uma nota de corte mais baixa para ingressar no curso: 573,59. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por exemplo, esse índice era de 715,03. O curso de Letras (Inglês/Espanhol) teve nota de corte de 578,3 e o de Matemática 587,17, abaixo da média nacional.

Comentários:

Michele Melo: Alguns cursos como o de Pedagogia que são ministrados em 2 turnos, deveriam ser mais dinâmicos. Se um aluno reprova de uma disciplina só pode cursar 1 ano depois, pois não são oferecidas as disciplinas todo o todo semestre. A falta de professores para ministrar disciplinas atuais, e de a possibilidade de adiantamento e escolha de créditos. Deixa o curso muito massante, e desestimula os discentes.

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