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Brasil e Bolívia: a fronteira mais ativa do corredor bioceânico

Fonte: Agência France Press (AFP) em 10 de Abril de 2013

O trem que vai da localidade boliviana de Puerto Suárez, na fronteira com o Brasil, no sentido de Santa Cruz, capital econômica da Bolívia, parte cada vez com menos passageiros.

A rota bioceânica que liga o Atlântico ao Pacífico, e conecta Brasil, Bolívia, Peru e Chile, por meio de 3.450 km asfaltados, reduziu consideravelmente o tempo de viagem por estrada e se tornou uma opção vantajosa. Uma fronteira marcada pelo narcotráfico, suborno, contrabando de automóveis e de outras mercadorias e pelo fluxo de mão de obra ilegal avisa, porém, que nem tudo é progresso.

Com 3.400 km de fronteira compartilhada, Brasil e Bolívia, o país mais rico e o mais pobre da América do Sul, respectivamente, confluem em vários pontos, mas nenhum tão ativo e com tantos contrastes e problemas quanto no trecho entre a cidade boliviana de Puerto Suárez e Corumbá, no Mato Grosso do Sul.

Nessa área, circulam diariamente caminhões carregados de mercadorias, assim como moradores de ambos os lados da fronteira - muitos em busca de um trabalho, ou de um deslize da polícia para levar droga escondida na roupa, em malas com fundo falso, ou mesmo nas partes íntimas.

No ano passado, 980 quilos de cocaína foram apreendidos nesse ponto da fronteira. Segundo a ONU, a Bolívia é o terceiro produtor mundial de cocaína, e o Brasil, seu principal destino.

"Nos últimos meses, as apreensões de drogas caíram drasticamente. Este ano não chega a 50 quilos. Alguma coisa está mudando: ou a rota, ou o meio de transporte", afirma o delegado da polícia federal em Corumbá Alexandre do Nascimento, em entrevista à AFP.

Em busca de gestos suspeitos

Mal começa o dia, sob uma chuva inclemente, e já se forma uma fila no posto brasileiro de imigração.

Juan Quispe, de 25 anos, sua mulher, Gabriela, de 22, e os dois bebês do casal estão de volta à Bolívia depois de dois anos sem visitar o país. Quispe conta à AFP que, por cinco anos, trabalhou ilegalmente em São Paulo em uma pequena fábrica de costura, mas conseguiu regularizar sua situação depois do nascimento da primeira filha, no Brasil.

Fotos: AFP/ Yasuyoshi Chiba

Militar brasileiro inspeciona bagagens na fronteira com a Bolívia

A fila é formada por bolivianos, em sua maioria, e eles não precisam de visto de turista para entrar. De acordo com a polícia brasileira, até fevereiro de 2013, cerca de 300 bolivianos cruzaram a fronteira diariamente. Quase ninguém quer falar sobre seus planos, enquanto espera a vez de ser atendido.

Agentes federais brasileiros interrogam, carimbam formulários de entrada e buscam gestos suspeitos.

"A maioria diz que é turista, mas muitos entram para ir trabalhar em São Paulo, onde se sabe que são submetidos pelos próprios bolivianos que migraram ou por brasileiros a condições quase de escravidão", comenta um oficial da PF, pedindo para não ser identificado.

À noite, outros agentes, com cães treinados e uma tropa de elite, procuram drogas nos ônibus de passageiros. São quase 70 homens patrulhando diariamente por terra e pelas águas do rio Paraguai.

O narcotráfico e o intenso fluxo de bolivianos buscando se passar por turistas não são, porém, as únicas preocupações.

Os contrastes

"Vou falar uma diferença entre os dois lados, o brasileiro e o boliviano", começa Rubén Galvis, um caminhoneiro boliviano de 27 anos, que há dois faz o trajeto Corumbá-Santa Cruz, levando todo tipo de mercadoria.

"No Brasil, a polícia se aproxima com um bloco de multas na mão. Na Bolívia, ela se aproxima sem nada... Não quer controlar, quer apenas que lhe deem dinheiro para deixar você ir embora", completa Galvis.

A queixa é unânime entre os motoristas bolivianos e brasileiros que se aglomeram na aduana de Corumbá para esperar, 12 horas em média, que sua carga seja liberada.

Os relatos em português e espanhol são parecidos: do lado brasileiro, a lei é regra, do boliviano, exceção.

"No Brasil, é permitido dirigir descalço, mas quando tento explicar isso para o policial boliviano, ele só faz o gesto para que lhe dê dinheiro, caso contrário, não me deixa continuar", reclama o brasileiro Paulo Assis, que transporta derivados do petróleo.

O tema já é uma preocupação entre as autoridades de ambos os lados.

"Não devemos generalizar, mas essas reclamações já chegaram até mim: que lá as pessoas não são tratadas, nem abordadas, da forma mais correta, dentro da lei", admite o prefeito de Corumbá, Paulo Duarte.

Bolivianos na fronteira entre Brasil e Bolívia no aguardo do visto de entrada

Com 105 mil habitantes, sendo 20% deles de origem boliviana, Corumbá é a porta de entrada para o leste da Bolívia. A 15 km, do lado boliviano, fica Puerto Suárez, uma localidade de 26 mil habitantes.

Pelas duas cidades passa o corredor bioceânico que une o Pacífico ao Atlântico, indo do porto de Santos, no Brasil, até os portos de Arica e Iquique, no Chile, e de Matarani e Ilo, no Peru.

A estrada, que ainda espera pela inauguração oficial depois de ter seu trecho concluído na Bolívia no final de 2012, é considerada a melhor alternativa para o envio de matérias-primas brasileiras para a China e para o comércio entre os países envolvidos.

Já em funcionamento, a estrada reduziu significativamente o tempo de percurso de Corumbá a Santa Cruz, passando por Puerto Suárez. Antes, a viagem por terra, por uma estrada em condições precárias, poderia levar até dois dias. O trem que sai de Puerto Suárez era, até então, a opção mais rápida: 12 horas de trajeto.

"Agora, pela estrada bioceânica, leva sete horas. O trem de passageiros, que já não enche nem 50%, vai desaparecer com o tempo", disse à AFP Juan Alberto Jordán, vice-governador da província boliviana de Germán Busch, jurisdição de Puerto Suárez.

Até a conclusão da estrada, Puerto Suárez era parada obrigatória dos caminhoneiros. Agora, quase ninguém para por lá, e a cidade parece vazia. Apesar disso, aposta-se no aumento do comércio e do turismo, em um lugar que sempre viveu da agricultura. Espera-se também que, em breve, as reservas de ferro próximas sejam exploradas.

O vice-governador alerta que, sem controle, a rota bioceânica "pode se tornar uma rota do crime".

"Não se pode condenar uma região ao isolamento por medo de que o tráfico ilegal vá aumentar. Senão, não haveria investimentos. Os efeitos negativos não me preocupam. Isso se resolve com mais investimento na fronteira", rebate o prefeito de Corumbá.

Comentários:

Maria de Lourdes: É triste a situação de pobreza que eles vivem.Infelizmente quando vem para o Brasil,são obrigados a trabalhar feito escravas.Realmente na Bolivia as leis não funcionam,somente se "molhar"a mão do Policial.Pior ainda quem escreveu a matéria e colocou OFICIAL DA PF.A PF não segue o militarismo e sim hierarquia.Fica a fica ;)

Erisvaldo Batista Ajala: Quem vive na fronteira acompanha o processo de organização que passa a Bolívia. basta ver a construção de vários pedágios com o controle do exército e a polícia de combate ao narcotráfico. Sabemos das dificuldades do governo Boliviano, principalmente pela falta de estrutura. Mas, que será resolvida a medida que o país for desenvolvendo e aumentando a taxação de impostos. Temos que entender que a Bolívia passa por um processo, que aliás a muito tempo não se via, de desenvolvimento. A Bolívia nos últimos 7 anos de governo do Presidente Evo Morales teve um um crescimento em seu PIB em torno de 11%, isso é significativo em um país que teve em sua história, governos que entregaram as riquezas ao capital estrangeiro.

ALexandre: Quem mora na fronteira sabe que do lado boliviano é muito mais dificil ser assaltado, ,mais dificil ser passado a perna, mais dificil ter gente desonesta. Sou brasileiro, e tenho vergonha de ao cruzar pro país mais pobre, portanto mais propenso a todo tipo de desespero de sua população pobre, a cair na bandidagem..pagar 10 reais pra um táxii ( conforme combinado anteriormente) pra andar 10 ou 15km...e NUNCA ter sido enganado! Já no Brasil...ah cobram 20...ai da 30...pra andar miseros 5km....e a educação? Bolivianos sempre simpaticos e falantes...as vezes passam pegar alguem pelo caminho, dao carona ou cobram uma merreca pra compatriotas...mas ao mesmo tempo nunca cobram além do combinado pra gente! Quando trabalham do lado de ca, sempre sem horario, ganhando pouco.... triste é morar no país mais rico da América do Sul e ser explorado toda vez que viaja aqui dentro mesmo! QUem já não foi assaltado em táxis no Rio ou Sp? Eu nunca fui na bolivia!