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Índia guató, de 110 anos, vive na região do São Lourenço

Rodrigo Nascimento em 27 de Julho de 2011

Fotos: Rodrigo Nascimento

Júlia da Silva nasceu em 20 de janeiro de 1901

Casa fica isolada na região do rio São Lourenço, parte mais alta da planície pantaneira

Júlia Caetano não anda, ouve muito pouco e não fala, nem entende sequer uma palavra dita em português. A visão também foi bastante afetada pela ação dos muitos anos que viveu da caça e da pesca no Pantanal de Corumbá. Todas estas limitações hoje a mantêm presa a uma cama de solteiro, em um local isolado na região do rio São Lourenço,parte mais alta da planície pantaneira, distante quase 300 quilômetros da área urbana de Corumbá. A casa de uma única peça, sem água encanada ou energia elétrica, é dividida com o filho, Vicente Manoel, e dezenas de cães e gatos.

São estes animais que fazem companhia a indígena quando seu "caçula", de 66 anos, sai em busca de alimento. "A gente chegou aqui em 1964, depois que a fazenda foi abandonada pelos donos", contou Vicente. Ao redor do casebre, é possível notar resquícios de uma construção feita de alvenaria. As fundações, bastante amplas, permanecem intactas à ação do tempo. Já os tijolos ficaram restritos à beira do rio, onde formam uma barreira de contenção de água.

Dentro da casa, uma pequena fogueira, acesa próxima a cama, mantém a temperatura mais quente e ajuda a espantar um pouco os mosquitos. O pouco espaço em volta do colchão ocupado por dona Júlia é disputado pelos gatos. Do lado de fora, um outro fogaréu é usado para preparar a comida. Ao redor da fonte de calor se aconchegam os cães, e outro punhado de gatos. A convivência entre os animais parece bastante pacífica.

Penduradas pelas paredes, as zagaias são as principais ferramentas de defesa dos moradores do Porto Guató, como o local é conhecido. O objeto é um tipo de lança artesanal, bastante resistente e pontiagudo, usado antigamente na caça das onças. Bodoques - um tipo de arco que lança pedras, ao invés de flechas - também ficam distribuídos em várias partes do porto. "Aqui tem muita onça. Por isso os cachorros", explica "Mané", como Vicente afirma se chamar, apesar do documento de identidade trazer a ortografia correta.

No auge da cheia, a água chegou a entrar na casa de mãe e filho. O jeito foi suspender os poucos pertences em girais (taboas e pedaços de pau espalhados pelo chão, formando pequenas passarelas) e esperar. A ajuda para enfrentar estesmeses de sufoco veio do Programa Social Povo das Águas. A primeira remessa de cesta básica, mantas, cobertores, casacos e a visita da equipe médica chegaramem maio.Na semana passada, a ação retornou ao norte do Pantanal e, consequentemente, à casa dos indígenas.

Centenária

De acordo com a Secretaria de Assistência de Corumbá, Júlia da Silva nasceu no dia 20 de janeiro de 1901. Completou 110 anos no início de 2011. Mas ela não tem nenhum documento pessoal consigo. Na cidade, as únicas provas da idade da indígena são um comprovante do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), datado de 30 de junho de 1999, e o Registro Indígena. O primeiro mostra que Júlia está registrada no livro 01, folha 03, do Cartório de Registro Civil da cidade, sob o número 0691. O outro, original, traz o nome dos pais da indígena: João e Inácia Caetano.

Júlia é aposentada pelo INSS, mas deixou de fazer algum dos recadastramentos exigidos nas duas últimas décadas e perdeu o benefício. Desde o começo do ano, a Prefeitura tem tentado reverter a situação, mas esbarra na dificuldade de locomoção da centenária pantaneira.

Na segunda-feira (25), dona Júlia deu entrada no Hospital de Caridade de Corumbá com quadro de desidratação. Ela está internada na enfermaria com o estado de saúde estável. O filho Vicente a acompanha. Os dois desceram o rio de carona com um barco que passa pela região. Grandes embarcações demoram, no mínimo, 12 horas para percorrer este trajeto.

Comentários:

Manoel: Que linda história de vida, a prefeitura tem que valorizá-la e assistí-la. Esse nosso povo pantaneiro é guerreiro. que deus a proteja

ROSINAI VIEIRA DOS SANTOS: GUERREIRA,SÓ TEM Q AGRADECER A DEUS POR ESSE PRESENTE (A VIDA LONGA)

Sandro: Que bela História de vida, esse é o verdadeiro povo brasileiro, espero que sempre haja alguem para ajudalos, pois se não me engano ela é a mais antiga indigena viva.

Antonio: Onde está o povo da Srª Júlia Caetano? Os guatós não estão interessados em resgatar sua língua?! Deveriam cuidar mais da Srª Júlia, tirando ela um pouco do abandono.

Fátima Andrade: São essas histórias de vida que são a "Identidade" , a "Alma deste Lugar" chamado Pantanal Sul Maogrossense. Desconhecida da população e visitantes. Ótima iniciativa esta de divulgar as raízes pantaneiras, as características étnica-cultural da região.

g.g.: nossa, ela pode ate ter uma historia bonita, mais vive numa situaçao de precariedade total, uma forma desumana. os nossos "representantes" politicos deveriam fazer alguam coisa por essa senhora, como por exemplo abriga-la na cidade, e dar um restante de vida digna a ela.

arildo nunes: leva a globo até lá pra ver como aparece um bando de politícos pra ajuda-la !

arildo nunes: é uma pena que a sª Júlia não possa votar ! !

Anisio Guilherme da Fonseca : Caros amigos leitores do Diárionline, de tempo em tempo a Aldeia Uberaba do Povo Guató tem seus moradores e lideranças vindo a Corumbá para busca de suprimentos e articulação institucional que garante a reterritorialização e reestruturação da etnicida de um Povo que já esteve contado como extinto por mais de quarenta anos, por estudos mal feitos, por interesses inconfessáveis daqueles que no passado quiseram apropriaram-se do seu Espaço de Direito Consuetudinário Convenção 169 OIT/ONU, que o Brasil e signatário e assegurou a a sua ratificação nos Artigos 231 e 232 da Constituição Federal de 1.988, mas que até a presente data não regulamentou, por isso não Temos o NOVO ESTATUTO DO ÍNDIO, a EXEMPLO do ECA e do EStatuto do Idoso. Mas, hoje já a dezesse anos o Povo Guató, Índios Canoeiros do Pantanal, tem reconhecido terras onde está a Aldeia Uberada a 350 KM rio a montante, a partir da cdidade de Corumbá. Mas, os Guató que residem ao longo das regiões ribeirinhas, não serão impedidos de continuarem utilizando o territória da Grande Mãe TERRA no Pantanal entre Cáceres, Poconé no Mato Grosso, Corumbá no Mato Grosso do Sul no Brasil e território transfronteiricos na bacia do Rio Paraguai e seus afluentes Brasil-Bolívia-Paraguai. Antes de pessarmos em tirar alguém de um lugar e levar para o outro precisamos perguntar se a pessoa quer, pois não está muito distante a notícias de famílias que foram retiradas da moraria do URUCUM, para atender os interesses de Exploração Mineral e ficamos mais tarde sabendo que de tristeza as pessoas anciãs morreram pela tristeza de serem retiradas de seu lugar. Antes de retirarmos Dona Júlia e outros Guatós de outras Regiões, precisamos saber qual interesses da MMX e outros empreendedores e ONGs Nacionais e internacionais e querem estabelecer-se no Pantanal, nas regiões do AMOLAR, da Barra do São Lourenço, Morro Caracará,Acurrizal entre Outras . Solicito a todos que queiram entender um pouco sobre os Guató que liguem para a Aldeia Uberaba 021 67 4400 7237 e busquem informações quando estarão na Cidade e visitem-os no Barco Guató I, serão bem recebidos. Mas, se quiserem emitir juízos de valores podem Procurar o Ministério Público Federal que é, quem pode dar Informações sobre o que é Direito Consuetudinário dos Povos Indígenas, Tribais, Tradicionais o Originários Convenção 169 OIT/ONU, Artigos 231 e 232 da CF/88, e o que pode acontecer a quem os desrespeitar.

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