Marcelo Fernandes em 28 de Março de 2011
A cheia dos rios da planície pantaneira além dos prejuízos financeiros de quase R$ 200 milhões aos pecuaristas da região, pode causar "calamidade social". O alerta é do presidente do Sindicato Rural de Corumbá, Raphael Domingos Kassar. A este Diário o dirigente ruralista explicou que o problema enfrentado pela classe "é sério" e pode provocar uma série de ações em cadeia. Uma das preocupações é com a chegada do inverno em junho, que pode comprometer o rebanho bovino hoje muito debilitado. Outra questão que já começa a tirar o sono dos pecuaristas é a possibilidade de demissões no setor.
"O problema é sério, não podemos brincar, é uma calamidade econômica e social. Só em Corumbá, por exemplo, empregamos mais de 6 mil funcionários diretos. Suas famílias dependem do trabalho deles, e com certeza vai haver desemprego. Temos os empregos indiretos também. As lanchas ancoradas aqui dependem da pecuária, eles transportam nossos funcionários; mercadorias e animais e ainda vai repercutir diretamente no comércio local. É uma reação em cadeia, está faltando boi no mercado. Quatro plantas frigoríficas fecharam no nosso estado e pararam com os abates. É uma reação em cadeia, falta boi, aumenta preço, é inevitável. É uma situação muito preocupante", afirmou o presidente do Sindicato Rural de Corumbá.
Kassar vê outro complicador para os produtores rurais com o inverno. "A bacia da planície pantaneira tem declividade muito pequena. As águas chegam, ficam estacionadas e a drenagem é muito lenta. Se tivermos um inverno rigoroso, com os animais debilitados do jeito que estão, pela estiagem e enchente, não quero pensar no que pode acontecer. Pode reduzir e muito o rebanho dos municípios pantaneiros", argumentou.
Só em março, o rio Paraguai subiu quase dois metros. Passou de 2,55 metros de altura no dia 1º para 4,21m no domingo, dia 27, de acordo com medições da régua da Marinha em Ladário. Essa média de mais de 5 centímetros por dia, somente neste mês, também preocupa o Sindicato Rural, porque há motivos para que o nível do rio suba ainda mais.
"A situação hoje é muito preocupante para todos os produtores. Tivemos uma enchente que veio rápida, pegou as bacias do rio Miranda; do Abobral; do rio Negro e essas águas chegaram de forma repentina. Mas, as águas do alto Paraguai ainda não chegaram, não começaram a drenar para o rio Paraguai", complementou Raphael Kassar.
Reflexos na pecuária
O relatório da Embrapa Pantanal a respeito da evolução da cheia de 2011 sobre o Pantanal Sul e impactos para a atividade pecuária traz que as cidades de Corumbá; Coxim; Rio Verde; Aquidauana; Miranda e Porto Murtinho - principais municípios do Pantanal de Mato Grosso do Sul - têm rebanho com 2.420.702 reses . Estima que 1,2 milhão são matrizes (vacas que vão gerar os bezerros) e a quebra na produção seja de 50%.
O prejuízo financeiro com a quebra na produção é calculado em R$ 13.934.200. Há ainda perda com diminuição na taxa de natalidade, avaliada em torno de 10% do rebanho, com isso são mais R$ 24,5 milhões perdidos. Também entrou no cálculo a morte de bezerros nascidos estimado em R$ 13,7 milhões levando-se em consideração a taxa de 10%. O montante chega aos R$ 190 milhões quando entram na balança as perdas médias de matrizes de cria com base no valor da arroba (em R$ 88). São estimados, nesse quesito, um total de R$ 139.782.720 em prejuízos.
JULIO GUTIERREZ DOS SANTOS: SOU TECNICO AGRICOLA TRABALHO NA REGIÃO DA NHECOLANDIA E PAIAGUAS SEI BASTANTE A IMPORTANCIA DOS PEÃO PANTANEIRO NA PRODUÇÃO DE GADO NA REGIÃO ESSE PREJUIZO É MAIOR DO QUE PANSAMOS MAIS TENHO CERTEZA QUE O GOVERNO VAI AJUDAR OS PRODUTORES RURAIS POIS DEPEDEMOS DA PACUARIA
Jose Carlos: Talvez com essa calamidade o fazendeiro dê mais importância ao Peão Pantaneiro. Recebem um baixo salário para trabalhar, às vezes, 14 a 16 horas por dia e ainda sofrem desconto de alojamento e comida. O número de peões é reduzido, comparado com o rebanho e a área a ser trabalhada e o resultado está aí. Alguns fazendeiros não tem nem pessoal para salvar o gado. Estou exagerando? Não... sou pantaneiro e já presenciei tudo isso. É lógico que existem bons fazendeiros, aqueles que valorizam seus empregados e não descontam galpão e comida dessa classe tão sofrida. A esses, eu tiro o chapéu e desejo que dêem a volta por cima.
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