Campo Grande News em 05 de Dezembro de 2024
Henrique Kawaminami/Campo Grande News
Réu falou por cerca de 1h20 no julgamento do Caso Sophia
Christian está sendo julgado por homicídio qualificado por motivo fútil, meio cruel e praticado contra menor de 14 anos, além de responder por estupro de vulnerável. Stephanie de Jesus da Silva, 26 anos, mãe da menina, é acusada de homicídio por omissão.
Hoje, foi a vez de Stephanie sair da sessão durante interrogatório do Christian, direito concedido ao réu.
A fase inicial foi para responder às perguntas do juiz da 2ª Vara do Tribunal do Juri, Aluízio Pereira dos Santos. Contou que vivia de bicos, como entregador de pizzas e que morou com Stephanie por um ano e quatro meses. Diz que a relação era boa, mas, com o passar do tempo, ficou conturbada. “Tivemos momentos conflitantes”, alegando que os dois eram “enérgicos e explosivos”.
Christian negou que mantinha Stephanie em relacionamento abusivo. Diz que a companheira era fechada, com poucas relações familiares. Sobre uso de drogas, afirmou que utilizava, mas por período curto, e não ao ponto de “neurose ou abstinência”. Também creditou a ela o fato de ter começado a usar drogas. “A primeira vez que fumei maconha foi no aniversário dela, que ela falou que era da hora”.
O réu negou que maltratasse as crianças, mas sobre Stephanie, não poderia falar “coisa que não via”. Pontuou que ela gritava muito com a filha e, algumas vezes, ocorriam agressões.
O juiz pediu para que ele falasse sobre as denúncias de maus-tratos contra Sophia e ele disse que soube de algo, mas que ela não contou com detalhes.
Sobre a perna machucada da menina, contou que aconteceu quando Stephanie, que a carregava no colo, resolveu colocar a menina no chão. “Ela caiu, a Stephanie falou no dia que não queria que a mãe dela soubesse que a gente tinha saído com a Sophia doente”. A versão apresentada é que a menina tinha caído do carrinho, em casa.
Sobre o dia 26 de janeiro de 2023, contou que ele, Stephanie e dois amigos ficaram bebendo e usando drogas até amanhecer. “Eu apaguei, me lembro de acordar duas vezes, uma para almoçar, aí voltei a dormir”, contou. Mais tarde, segundo Christian, a mulher o chamou, desesperada, falando que a filha estava passando muito mal.
“Quando vi, ela estava em estado preocupante, convulsionando, com a boquinha meio roxa, acordei desesperado, sem saber o que estava acontecendo”, contou. Neste momento, Christian respira forte, indicando que teria ficado emocionado com relato.
O réu contou que pegou a criança, a arrumou e passou água no rosto dela, enquanto a mãe o aguardava na porta. Depois disso, Stephanie pegou a filha nos braços, chamou motorista de aplicativo e foi até a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Coronel Antonino.
Sobre os diálogos no WhatsApp, que indicariam combinação do que teria acontecido na morte, Christian diz que não era admissão de culpa. Em um deles, Stephanie pergunta o que falar para a polícia sobre os hematomas, ao que ele responde para ela “inventar qualquer coisa”, como ter caído de brinquedo, “como da outra vez”.
O réu alega que a orientou para inventar com medo que Stephanie fosse presa. Também alegou que o “outra vez” não era mentir novamente sobre o caso, mas usar fato acontecido anteriormente com a menina, que havia caído de brinquedo.
Em outra conversa relatada pelo juiz, Christian teria dito que não era bom pai e que iria se matar. O réu respondeu que estava em choque, chorou bastante e que se sentiu culpado por ter falado para Stephanie não levar a criança ao posto de saúde. “Achei que pudesse ser resolvido em casa, achei que era enfermidade temporária”, disse, acrescentando que a mulher tinha hábito de levar a filha ao posto para pegar atestado e faltar ao trabalho.
Depois, foi a vez do promotor José Arturo Iunes Bobadilla questionar o réu. Ele perguntou sobre o depoimento da ex-mulher de Christian, que teria dito que foi agredida e ameaçada por ele. O rapaz falou que não tinha conhecimento do depoimento. Sobre agressões contra as crianças, conta que aplicou “algumas correções”, mas nada que fosse grave.
Ele disse que Stephanie também aplicava “meios corretivos e educacionais” e que um dos hematomas encontrados no corpo da menina era de um desses corretivos aplicados anteriormente, mas não soube precisar quando.
Christian também negou que tivesse estuprado Sophia e afirmou que nem dava banho na menina para evitar algum problema. Sobre a causa da morte, por traumatismo raquimedular, respondeu. “Não posso alegar algo que não estava presente, que não vi”.
A promotora Lívia Carla Guadanhim Bariani perguntou para Christian sobre informações prestadas por Stephanie no depoimento de ontem.
“Ela falou que você a asfixiava até ela desmaiar, chutava, dava socos, falou de abuso sexual no resguardo , essas agressões aconteceram?”, questionou.
Christian respondeu que algumas agressões aconteceram “tanto da minha parte quando da dela” e que ele reagia. Sobre estupro, disse que relação sexual foi consensual e que ela tomava iniciativa. “Foi opção dela, eu compactuei com a ideia dela”.
Ao responder às perguntas dos advogados de defesa, relembrando o dia da morte de Sophia, Christian voltou a se emocionar.
Segundo ele, a menina já não estava bem no dia anterior, com febre e vômito e que já tinha dado medicação. Relembrou o encontro com os amigos, quando beberam e usaram drogas e, no dia seguinte, quando Sophia passava mal.
“Notei que ela estava com a respiração quase cessando. Aquele momento de desespero, fiz massagem cardíaca, em cima do colchão”, disse. Argumentou que não foi ao posto com a mulher, porque precisava cuidar das outras duas crianças.
Quando a PM (Polícia Militar) chegou, disse já estar esperando a equipe por ter sido avisado por Stephanie sobre a morte de Sophia. Negou que tivesse dormindo na viatura e que se manteve abaixado por ordem do policial, para evitar tumulto na chegada à delegacia, por conta da imprensa.
No fim do depoimento, foi questionado se considerava Sophia sua filha. Chorando, respondeu que sim e lembrou que a menina começou a chamá-lo de pai e que tentava suprir carência pela falta da mãe e pelo comportamento distante de Stephanie. Voltou a falar que se sentiu culpado por não deixar a mulher ir ao posto antes.
“Como tinha dito antes, a gente achava que ela não estava bem, só que tinha um sintoma estomacal, a gente não teve desespero anterior. De forma alguma a gente esperava que acontecesse o que aconteceu”, disse.
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