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No Dia Mundial do Rim, pacientes renais crônicos relatam: vencendo um dia de cada vez

Leonardo Cabral em 14 de Março de 2024

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Os 141 pacientes são assistidos por profissionais da Clínica Renal Med

Em Corumbá, atualmente 141 pessoas, entre homens, mulheres e adolescentes de diferentes idades, fazem sessões de hemodiálise. Eles dependem de uma máquina para sobreviver. Ela filtra o sangue, faz a parte do trabalho que o rim doente não pode.

A doença renal é silenciosa, os sintomas geralmente aparecem apenas em estágios avançados e com poucas opções de tratamento. Para aqueles que já são submetidos às sessões de hemodiálise, a esperança é um dos sentimentos que predominam enquanto esperam pelo tão sonhado transplante de rim, vencendo “um dia de cada vez”, como se referem às sessões de hemodiálise.

Alegria e valentia

Com sorriso no rosto, mesmo diante da dificuldade, Crispim Marques da Silva, de 63 anos, tem o pensamento positivo e se diz feliz, pois tem a esperança de voltar à rotina que tinha, estar em movimento, trabalhando.

Anderson Gallo/ Diário Corumbaense

Com sorriso no rosto, mesmo diante da dificuldade, Crispim Marques mantém a esperança de voltar à rotina

“Foi muito difícil quando recebi a notícia, bateu uma tristeza. Nunca fiquei doente, não tinha vindo ao hospital, sempre trabalhei em fazenda. Mas, há quase dois anos, recebi a notícia que teria que 'ficar' na máquina. Tudo no começo é difícil, agora encaro a situação com toda felicidade, sou feliz e fico aqui, na esperança de conseguir o transplante de rim, mas também tenho a cabeça no lugar, que será no momento certo”, falou Crispim ao Diário Corumbaense.

Ele faz questão de deixar um recado: “tomem bastante água, comam menos coisas que faz mal, tem que evitar para não chegar a esse problema, é difícil, estou vivendo aqui porque não tem outro jeito, mas estou feliz”, afirmou.

Agarrada na fé

Há quase três anos entre idas e vindas às sessões de hemodiálise, Neide Bastos, 76 anos, se mostra valente, vencendo a cada dia os obstáculos impostos pela vida. Mas, nem sempre foi assim. Quando recebeu a notícia que teria que enfrentar as sessões de hemodiálise, ficou desanimada, mas logo, recuperou a autoestima e hoje, ajuda a repassar os cuidados necessários às pessoas.  

Anderson Gallo/ Diário Corumbaense

Neide se agarra à fé e diz sempre que a alegria é fundamental para enfrentar a doença

“Olha, foi traumatizante quando recebi a notícia, porque a gente não espera que aconteça isso. Desde meus 50 anos vinha lutando com o diabetes, hipertensão, e depois veio a hemodiálise. Porém, decidi enfrentar com sorriso e alegria”, falou.

No início, Neide, que sempre atuou na área da Educação, revelou que não queria realizar o transplante de rim, porém, com o tempo, mudou de ideia. “Estava numa fase depressiva,  achava que não tinha que fazer mais nada. Agora quero, não faço a missão mais importante da minha vida, mas, se vier, agradeço. Procuro ser valente, não reclamo, levo dentro do quadro que tem de ser levado sem entrar em desespero e tampouco largar de mão. Me agarro na fé, sou ‘discípula’ de Padre Ernesto Sassida, acho que minha força vem daí, junto com a alegria de viver”, afirmou Neide com sorriso no rosto e sentimento de carinho ao relembrar do saudoso padre salesiano que fundou a obra social Cidade Dom Bosco. 

Prevenção é fundamental

Os rins desempenham um papel fundamental no organismo, atuando na filtragem do sangue, remoção de toxinas, produção de hormônios e equilíbrio hídrico do organismo. Entre os resíduos do metabolismo está a creatinina, substância produzida pelos músculos. Ela é eliminada do corpo pelos rins, por meio da urina, e a sua concentração no sangue é um importante indicador da função renal. A creatinina pode ser avaliada por meio de um exame de sangue, que pode ser facilmente incluído no check-up anual.

É o único órgão do corpo humano que pode ser substituído por uma máquina, que faz o papel dos rins. Nessa máquina existe um filtro, chamado dialisador, que é o rim artificial, usado para limpar o sangue. O sangue é bombeado por meio de um cateter tubo ou de uma fístula arteriovenosa, que é a ligação entre uma artéria a uma veia, passando através da linha arterial do dialisador, onde o sangue é filtrado e retorna ao paciente pela linha venosa.

O paciente realiza três sessões por semana, que podem durar em torno de 4 horas ou conforme prescrição médica. A máquina é considerada o último estágio da doença crônica renal, que caracteriza a perda lenta e progressiva das funções renais.

A nutricionista, Regiane Monteiro, da Clínica Renal Med, explica que as pessoas com rins normais, filtram o sangue 24h por dia, mas as que já fazem uso da máquina, filtram três vezes na semana, quatro horas por sessão, cerca de 12h por semana, ou seja, não chega a filtrar um dia todo.

“Hipertensão, diabetes e problemas cardíacos, são as três principais causas que levam uma pessoa a ser doente renal. É uma doença silenciosa, a pessoa não sente dor, não tem nenhum sinal ou sintomas. Ela vai sentir fadiga, mal-estar, falta de ar, náusea, inchaço, mas isso, quando a doença já está instalada, quando, então, ou vai para o tratamento conservador, que é dieta de extrema importância ou vai direto para a máquina. Depois disso, só transplantando”, explicou. 

A nutricionista deixa claro também que, existem casos de doença autoimune, “como lúpus e outras síndromes raras que afetam os rins. Tem pessoas que ficam por algum agravo no CTI, aí acontece de os rins pararem de funcionar e não voltam. Também o uso de automedicação. Anti-inflamatórios em excesso e relaxantes musculares também podem causar a doença renal crônica”, alertou a profissional.

Anderson Gallo/ Diário Corumbaense

Nutricionista, Regiane Monteiro, chama a atenção para a prevenção contra a doença silenciosa

De acordo com Regiane, estudos revelam que que uma a cada dez pessoas no Brasil tem doença renal crônica e não sabe, por isso sempre o alerta e a prevenção.

“Doença renal crônica é quando os rins não estão funcionando 100%. Às vezes não chegou na máquina, mas está perdendo a função dele que é filtrar o sangue, eliminando as substâncias tóxicas, seja da comida, remédios, ele não está funcionando direito.”

Outro fator importante é quando o paciente é acionado para o transplante, mesmo assim, para passar pelo processo, ele tem que manter uma dieta e cuidados, caso contrário, o transplante não é realizado.

“Alguns não conseguiram transplantar. Hoje, temos Campo Grande e Curitiba que realizam o procedimento. O paciente tem que estar em até seis horas no local, ligaram tem que ir, mas se os exames não corresponderem, não há transplante. A dieta é de extrema importância antes e depois, para manter o órgão funcionando, pois há casos de pessoas que são transplantadas, mas não se cuidam e acabam perdendo os rins e retornando à máquina”, pontuou.

Caminhada 

E para chamar a atenção da sociedade, neste sábado, 16 de março, acontece a 1ª Caminhada do Dia Mundial do Rim, que é celebrado nesta quinta-feira, 14. A data foi instituída para informar a população sobre as doenças renais, com foco na prevenção e na incorporação de práticas.

“Na nossa caminhada sairemos aqui da frente da clínica e iremos até o Jardim da Independência. Lá, teremos algumas atividades, como aferição de pressão, exames de diabetes e orientações sobre os cuidados com os rins. É aberto à toda a população e contamos com a participação de todos”, falou Regiane Monteiro.

A concentração será em frente à Clínica, na rua América, entre Firmo de Matos e Luiz Feitosa Rodrigues, a partir das 07h30.

A mobilização é do Grupo Amigos do Rim de Corumbáuma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, de caráter beneficente e filantrópico, fundada em 2015 e inserida no âmbito do Terceiro Setor. Sua missão consiste em oferecer apoio, assistência e proteção aos pacientes renais crônicos de Corumbá, Ladário e aos residentes bolivianos na fronteira, por meio de ações de acolhimento social, assessoramento, defesa e garantia de direitos.

O grupo se sustenta por meio de doações da comunidade em geral e de mantenedores. Os pacientes admitidos para tratamento dialítico são encaminhados a uma equipe multidisciplinar da clínica, que realiza relatórios socioeconômicos. Caso se identifique situações de vulnerabilidade social, o grupo é informado e procede-se ao acolhimento do paciente e sua família. 

Relato pessoal

Peço licença aos leitores, não tive como segurar a emoção...

Foi difícil não conter as lágrimas, respirei fundo e fiz meu trabalho, que foi entrevistar. Ao pisar no corredor da clínica e ver os pacientes, a cena me fez lembrar das minhas três tias, irmãs da minha mãe.

Sim, perdemos elas para a doença. Foram anos de tratamento e sessões. Três mulheres fortes e que sempre tiveram alegria de viver: Marlethe Cabral; Blanca Cabral; Ernestina Cabral, esta última, se foi recentemente.

Por acompanhar de perto, sei o quanto é difícil e doloroso a luta a cada sessão que os pacientes são submetidos. Tem dias que eles saem bem, outros não tão bem. O carinho, afeto e apoio da família, são essenciais.

Sim, é difícil, mas são vidas e como os entrevistados afirmaram, ter alegria e ser valente, são fundamentais para vencer.

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