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Iagro e Semadesc emitem nota técnica sobre casos de mortalidade de bovinos em MS

Portal de Notícias de MS em 21 de Junho de 2023

Divulgação/Iagro

Gado não resistiu ao frio no Pantanal de Mato Grosso do Sul

Em virtude da ocorrência de casos de mortalidade de bovinos no Estado de Mato Grosso do Sul na última semana, a Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação) e Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal de Mato Grosso do Sul) orienta os produtores rurais: 

Propriedades que tiveram ocorrência de casos de mortalidade acima dos parâmetros considerados normais devem reportar esta situação imediatamente à IAGRO.

O Serviço Veterinário Oficial (SVO) está realizando a inspeção veterinária dessas ocorrências para realizar a baixa do estoque/ saldo. Situações em que a visita da IAGRO não seja possível, o produtor deverá apresentar um laudo veterinário particular para realizar a baixa do seu estoque.

A mortalidade de animais por hipotermia pode variar conforme o estado nutricional/escore corporal dos animais, da presença de abrigos para proteção (naturais ou artificiais), da idade e raça dos animais acometidos, da distribuição das mortes nos diferentes pastos da propriedade e localização dos cadáveres dentro de um mesmo pasto.

Os animais de criação são suscetíveis a temperaturas extremas, sendo esses eventos definidos por dois parâmetros:

  • o limiar de temperatura, que caracteriza a intensidade do calor ou do frio,
  • a duração, que é o número de dias consecutivos com temperaturas diferentes do limiar.

 As variações térmicas podem ocasionar tanto efeitos imediatos como tardios na saúde dos rebanhos, podendo ser intensificada quando a exposição a tais condições é prolongada.

Quando o desafio dos animais é prolongado pode ocorrer dificuldade ou incapacidade do gado de se recuperar, com prejuízo do desempenho e das funções fisiológicas, o que pode ocasionar problemas de saúde clínicos ou subclínicos e até a morte dos animais desafiados. Os estudos se concentraram principalmente nas reduções relacionadas ao calor no consumo de ração, na produção de leite, na taxa de crescimento e no desempenho reprodutivo (KADZERE et al., 2002; HAHN, 1999; SILANIKOVE, 2000).

A hipotermia ocorre quando a temperatura corporal cai abaixo do normal, podendo ser classificada em bovinos como leve, moderada e severa. Quando a diminuição acentuada da temperatura ambiente ocorre simultaneamente com precipitação pluviométrica e ventos a ocorrência de mortalidades em bovinos é facilitada. As diferenças entre raças, tipos de pele e de pêlos (SANTOS et al., 2012; RADOSTITS et al., 2000; COLLIER et al., 2019; MALDIN et al., 2016; HILLMAN et al., 2008).

Episódios anteriores de mortalidade em decorrência das condições climáticas no estado já foram descritas como propícias de ocorrência de modo cíclico. O estado nutricional dos animais, a baixa disponibilidade e qualidade das pastagens, bem como a ausência de abrigos naturais ou artificiais para proteção desses indivíduos contra a mudança climática brusca, com queda da temperatura associadas a ventos fortes e chuvas, podem favorecer os casos de mortalidade por hipotermia. (SANTOS et al., 2012).

Algumas medidas podem servir como fator de proteção e maior conforto térmico para os animais a campo, como: recolher os animais em piquetes/ invernadas com capões de mata que servirão de proteção aos animais contra os ventos gelados e as temperaturas a céu aberto; em piquetes/ invernadas com barreiras naturais ou artificiais que sirvam de barreiras para amenizar as correntes de ar geladas; evitar deixar os animais em invernadas localizadas ao longo de corpos de água; procurar abrigar os animais debilitados ou mais sensíveis em piquete ou curral próximos (para melhor suporte desses), cuidar da suplementação do rebanho devido a danos provocados pelas baixas temperaturas às pastagens (forragens, volumoso ou concentrados), entre outros (OLIVEIRA & ROSA, 2021).

Abaixo temos um mapa demonstrando os municípios nos quais foram notificados casos de hipotermia de acordo com a quantidade de animais mortos até dia 19 de junho de 2023.

Reprodução

Já com relação a quantidade de animais mortos por município, Nova Andradina (578 animais) teve a maior quantidade de animais mortos seguido de Batayporã (396 animais), Aquidauana (386 animais) e Rio Verde de MT (368 animais), conforme tabela abaixo.

Reprodução

Com relação aos animais mortos, sua remoção deverá ser feita o mais rápido possível, de modo a evitar danos resultantes da putrefação dessas carcaças, como é o caso do botulismo, uma toxinfecção ocasionada pela ingestão de toxinas produzidas pela bactéria do gênero Clostridium em condições de anaerobiose, entre outras enfermidades.

A legislação brasileira preconiza alguns métodos para destinação de carcaças de animais mortos visando a prevenção da poluição do ar, solo, água, proteção a mananciais e manejo adequado de resíduos. Alguns são utilizados por produtores mais frequentemente, como o enterrio das carcaças no ambiente, devido ao menor custo. A técnica de enterrio possui variações, no geral é cavada uma cova de 1 a 1,2 metro de profundidade, sendo que a largura e o comprimento devem ser adequados ao tamanho e ao total de animais mortos. É necessário evitar enterrar animais onde o lençol freático é próximo da superfície e manter uma distância mínima de 150 metros de fontes de águas. Não se deve enterrar em locais com tendencia a inundações ou à erosão. A adição de cal controla o mau cheiro, porém limita a atividade microbiana que acelera a degradação, de modo que os cadáveres demoram mais para deteriorar. É importante identificar e cercar os locais de enterrio, evitando a contaminação e entrada acidental de gado e pessoas nessas áreas.

O enterrio de animais mortos tem certas vantagens como a contenção permanente de surtos de doenças, se adequa as mais diversas topografias, principalmente onde é possível o uso de retroescavadeira para escavar a vala.

Outra forma de destinação bastante utilizada é disposição das carcaças no ambiente (cemitérios), opção de menor custo e menos trabalhosa, porém, como o animal morto fica em vala aberta, a carcaça fica acessível a ação de animais necrófagos ou carniceiros, bem como predadores (onça). Nesse tipo de descarte, o risco de transmissão de doenças é alto, pode haver contaminação do solo e água, há risco de organismos patogênicos ficarem dispersos no ar, e para certas situações, as possíveis doenças ‘causa mortis’ ficam sem controle efetivo.

O descarte de animais mortos também é feito através da queima das carcaças utilizando materiais combustíveis como: palha, galhos de árvores e restos de madeira em geral. Essa opção pode incluir estratégias como a construção de pira, a queima de cadáveres em fossas abertas ou a utilização de estruturas (caixas) de concreto/ metal com fluxo de ar. Já a incineração envolve a queima de material orgânico em um sistema construído com material refratário (container, câmara, recipiente) utilizando ar forçado.

A compostagem (considerada um método econômico e ambientalmente correto de destinação de animais mortos) é um processo natural em que bactérias, fungos e outros microrganismos transformam o material orgânico em um produto estabilizado chamado composto. A compostagem de gado morto envolve duas fases, a primeira, onde os cadáveres dos animais são colocados em uma caixa de compostagem ou em um amontoado de palha e um agente volumoso, com muito carbono, como serragem ou palha, é adicionado para cobrir completamente os cadáveres. Pode ser acrescentado estrume para acelerar o processo de decomposição. A segunda fase envolve a revolvimento da pilha de compostagem de tempo em tempo para introdução de ar, alimentando assim os microrganismos aeróbicos (necessitam de oxigênio) e farão a degradação dos materiais produzidos na primeira etapa em dióxido de carbono (CO2) livre de mau cheiro e água (H2O). Este estágio/fase faz com que aumente a temperatura da pilha matando os vírus mais comuns e bactérias.

A compostagem exige tempo e esforço, mas os custos das matérias-primas são mínimos, o controle de doenças é bom e o composto resultante pode ser utilizado como fertilizante ou na estruturação do solo (MAURO et al., 2019).

O biodigestor ou biogás corresponde a criação de um ambiente, que podemos denominar de ecossistema bacteriano misto, sem oxigênio, que transforma o animal morto em metano, dióxido de carbono e lodo. É um processo de digestão anaeróbica de cadáveres que requer um equilíbrio de várias populações microbianas, onde incialmente ocorre a hidrólise, quebra dos lipídios, polissacarídeos, proteínas e a transformação de ácidos nucleicos em ácidos graxos, monossacarídeos, aminoácidos e purinas e pirimidinas. As bactérias acetogênicas faz a conversão desses em ácidos orgânicos, dióxido de carbono e hidrogênio. Os ácidos orgânicos são então convertidos em metano e dióxido de carbono (BAUER et al., 2008). O processo de digestão anaeróbica converte o animal morto em biogás (metano) que pode ser utilizado para a geração de energia elétrica e para aquecimento de instalações rurais. (MAURO et al., 2019). Diante dessas opções e de acordo com as condições das propriedades rurais no MS, o mais recomendado é associar métodos eficientes e com baixo custo e acessível ao produtor ou associando mais de uma técnica como a construção das valas associada a queima dos animais mortos para posterior enterrio dos restos. Devemos reforçar a necessidade do cumprimento da legislação ambiental quanto a construção das valas nos casos de grande quantidade de animais.

Em caso de dúvidas ou necessidade de orientação adicional, entre em contato conosco em um de nossos escritório, através do e-mail notifica@iagro.ms.gov.br ou do WhatsApp notifica IAGRO (67)99961-9205.

A Iagro coloca-se à disposição e conta com participação e colaboração de todos. Contamos com a colaboração de todos na intenção de preservar a saúde e bem-estar dos rebanhos em nosso Estado.

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