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Proibido por lei, mas “comum” nas ruas, cerol torna perigosa brincadeira que atravessa gerações

Ricardo Albertoni em 18 de Julho de 2018

Fotos: Ricardo Albertoni/Diário Corumbaense

Brincadeira desperta o fascínio das crianças, adolescentes e até mesmo de adultos

Pipa, raia, papagaio, peixinho, pandorga são alguns dos nomes do brinquedo que mesmo com o passar dos anos e o advento da tecnologia ainda desperta o fascínio das crianças, adolescentes e até mesmo de adultos. Durante todo o ano é comum encontrar nas ruas adeptos da brincadeira que em muitos casos, é passada aos filhos pelos próprios pais. Mas, é nas férias escolares que as ruas de Corumbá e Ladário  praticamente são tomadas pelos praticantes.

Cassiano Eduardo aproveita o período de férias no trabalho para apresentar a tradição para o filho Izaquiel da Cruz Vera, de seis anos

“É uma brincadeira boa, faço questão de trazer ele - o filho - para brincar, pra não ficar somente na frente de computador, essas coisas. Acho importante as crianças saberem como era a nossa rotina antigamente, quando não tinha tanto aparelho eletrônico”, explicou o funcionário de uma empresa terceirizada Cassiano Eduardo. Ele aproveita o período de férias no trabalho para apresentar a tradição para o filho Izaquiel da Cruz Vera, de seis anos. Mas tudo de maneira responsável. “Deixo ele aqui, sem o cerol. Na verdade, ele nem sabe o que é isso, trago ele e fico aqui por um tempo para não vir outro e cortar a pipa dele”, destacou Cassiano ao Diário Corumbaense.

Mas nem todos pensam assim. O cerol - mistura cortante de vidro moído e cola que é passada na linha durante preparo dos brinquedos para as “toreadas” em que o objetivo é derrubar a pipa do “oponente”, é quase que material obrigatório entre os jovens. A reportagem percorreu alguns pontos de Corumbá e constatou que apesar das inúmeras campanhas que alertam sobre os riscos da utilização do material em área urbana e ainda a proibição por meio de Lei Municipal e estadual que estabelecem multas aos pais e apreensões, o uso do cerol persiste e é tratado de maneira comum.

“Sem cerol não dá, todo mundo usa, se a gente não usar ficamos sem pipa. É perigoso quando a linha cai, mas a gente procura puxar rápido e alguém fica lá do outro lado da rua para levantar se passar algum motociclista”, disse um adolescente a este Diário.

Uso do cerol persiste e é tratado de maneira comum

Há risco para pedestres e ciclistas, entretanto, nesses casos, os motociclistas acabam sendo as grandes vítimas. Todos os anos há registros de acidentes causados pelas linhas cortantes. A maior parte são quedas, mas em alguns casos, os ferimentos podem causar a morte, já que atingem principalmente a região do pescoço quando os condutores geralmente estão em alta velocidade.

O cobrador Everton Freitas, 29 anos, que utiliza a moto como meio de transporte para realizar o trabalho relatou que já passou por duas situações que o deixaram assustado. Ele aponta que a falta de fiscalização é o principal motivo para que a prática continue na região.

O objeto com custo baixo que possui a função de evitar acidentes graves ainda não é encontrado com facilidade nos veículos

“Em anos anteriores já caí duas vezes, foi um susto, mas graças a Deus não aconteceu nada de mais grave. A única maneira de evitar isso é a gente mesmo se precaver, ainda não coloquei a antena mas pretendo colocar na minha moto. O problema disso tudo é que a fiscalização não funciona. É preocupante porque eles soltam em lugares perigosos, como perto do anel viário que é uma via de trânsito rápido”, observou.

A antena que Evandro se refere é o Corta Pipa, que impede que a linha atinja regiões vitais do motociclista. A antena, que possui um gancho na ponta com a parte interna afiada e que prende e corta o fio, tem um custo entre R$ 10 e R$ 25 e é instalada nas oficinas voltadas para este tipo de veículo.

Mas, mesmo sendo inquestionável sua importância, o objeto com custo baixo que possui a função de evitar acidentes graves ainda não é encontrado com facilidade nos veículos. Várias motocicletas ainda trafegam sem a antena, entretanto, os estabelecimentos especializados afirmam que a procura começa a crescer. Nos últimos dias, oficina localizada na rua Cabral tem vendido cerca de 10 a 15 antenas. "Fazemos os pedidos às terças-feiras. Todos os dias vem gente perguntar sobre o produto, a procura aumentou muito recentemente”, explicou a atendente Tamires Alves.

O Corta Pipa é instalado em cerca de 5 minutos

Em outro estabelecimento, na rua Ricardo Franco, os responsáveis também perceberam um aumento da procura. No local, o Corta Pipa é instalado em cerca de 5 minutos e é vendido por até R$ 20. “A gente instala bastante essa antena todos os dias, agora aumentou esse serviço por causa das férias”, explicou o funcionário.

Lei Municipal

A Lei número 2.508, de 26 de outubro de 2015 estabelece a proibição do uso de linhas cortantes (cerol) em toda a cidade para quaisquer atividades recreativas. Pela legislação, agentes públicos com poder de polícia, sejam eles federais, estaduais ou municipais, poderão apreender os materiais utilizados e comunicar a Polícia Civil para lavrar boletim de ocorrência.

Em caso de acidente, causado por linhas cortantes, em especial envolvendo terceiros, o autor, se for menor de idade, será encaminhado ao Conselho Tutelar com notificação dos pais ou responsáveis. Caso seja maior, será conduzido à Delegacia de Polícia Civil para lavratura do flagrante e providências cabíveis. A multa é de 1.000 Uferms (Unidade Fiscal de Referência de Mato Grosso do Sul)  - valor que hoje equivale ao total de R$ 26.330 ao responsável, independente das sanções penais a que estará sujeito.