Lívia Gaertner em 23 de Maio de 2018
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Martinho da Vila volta para Corumbá depois de 13 anos do último show
“Estou com um ano muito cheio e teve uma homenagem feita em São Paulo pela escola de samba Unidos do Peruche; a Vila Isabel também prestou homenagem lá na Vila e a festa continua. As escolas do Estado do Rio de Janeiro, que são muitas, centenas, estão fazendo trabalhos sobre minhas criações, tem alguns musicais que estão sendo preparados para serem lançados esse ano e tem uma peça que inaugurou semana passada”, resumiu o artista em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira, 23 de maio, véspera do show desta 14ª edição do Festival América do Sul Pantanal, no Palco Integração, montado na praça Generoso Ponce.
Ao longo de sua extensa e bem-sucedida carreira, o cantor nascido na cidade fluminense de Duas Barras, mostra sempre sua postura de um cidadão na luta social por onde passa a ideia da integração latina tão defendida pelo Festival nascido e realizado em Corumbá. Poucos sabem, mas Martinho já gravou músicas em Espanhol. Foi na década de 80 com o LP Portuñol Latino Americano.
“Mesmo não falando Espanhol a gente entende bastante do que eles dizem, mas eles não entendem quase nada do que a gente fala em Português, então peguei alguns compositores, músicas com mensagens sociais, porque naquela época toda América do Sul estava militarizada, coloquei uma versão de uma canção da Violeta Parra”, lembrou.
Mais recentemente, provou manter essa linha de pensamento da integração latina quando, em 2005, gravou o CD Brasilatinidade, que também gerou registro em DVD e inspirou o enredo campeão da escola Vila Isabel em 2006.
Aula de samba
A contribuição de Martinho da Vila para a arte se estende para a linguagem da Literatura onde é autor de 15 livros, sendo um deles, “O Nascimento do Samba” voltado para o público infanto-juvenil.
“Discute-se se o samba nasceu na Bahia ou no Rio de Janeiro, a minha tese é que o samba pode ter nascido em qualquer lugar porque ele é oriundo dos batuques africanos, principalmente de Angola. Se vocês forem a uma sessão de umbanda, aquela é uma batida praticamente de samba. Esses batuques foram para o Brasil inteiro, então, em qualquer lugar onde tinha uma senzala e um batuque ele pode ter nascido. Pode ter nascido em São Paulo, Rio Grande do Sul, qualquer lugar, até aqui no Mato Grosso do Sul”, disse Martinho que falou ainda sobre a diversidade e a representatividade desse ritmo.
“O samba é um símbolo do Brasil, assim como o Hino Nacional. Ele está sempre em evidência pois há uma variedade muito grande, a gente pode fazer um show de samba sem repetir, até bossa nova é samba, choro é samba, samba-enredo, então o samba tem essa força”, afirmou.
Como escritor, Martinho ainda coleciona romances e livros de crônicas. Ele é membro efetivo da Academia Carioca de Letras, do PEN CLUB e da Divine Académie Française des Arts, Letres e Culture.
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Artista também se envereda pelo área da Literatura onde assina 15 livros
Mais próximo da Natureza
Corumbá é uma antiga conhecida de Martinho da Vila que rememorou a época do pleno funcionamento do Trem do Pantanal, a linha férrea que unia os estados de São Paulo pela cidade de Bauru, até Corumbá, em Mato Grosso do Sul.
Ele contou aos jornalistas que visitou muito o distrito de Porto Esperança com um grupo de amigos paulistas com o qual praticava a pesca amadora. As boas recordações fizeram ele lamentar o fim da linha férrea para o transporte de passageiros.
“Eu pegava o trem em Campo Grande e parava em Porto Esperança. Uma pena acabar com o trem, era um passeio turístico fantástico”, afirmou ao avaliar o retorno para o município que tem o Pantanal em sua maior porção territorial
“É uma satisfação porque o Brasil é um país bem unificado, que é até um mistério como as diferentes regiões permaneceram unidas, pois cada uma tem suas características e a de Mato Grosso (do Sul) até o Norte é onde a gente se sente mais integrado à natureza, eu gosto muito”, declarou.
Em Corumbá, Martinho da Vila apresentará nesta quinta-feira, 24 de maio, o show “Alô, Vila Isabel”, mesmo nome do mais novo CD lançado para comemorar os 80 anos do cantor e compositor, além de homenagear a tradicional escola de samba carioca da qual ele traz a assinatura artística.
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