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Acadêmicas implantam projeto "polvo de crochê" na maternidade de Corumbá

Ricardo Albertoni em 22 de Maio de 2018

Foto cedida por familiares

O pequeno Henrique é um dos bebês assistidos pelo projeto

À primeira vista parece mais um brinquedo, “bonitinho”, como as mães o descrevem. Mas o objeto vai muito além de um simples adereço. O polvo de crochê faz parte do projeto “Entrelaçados no amor” reproduzido em Corumbá pelas acadêmicas, que estão em estágio na Maternidade da Santa Casa.

Após pesquisas, as alunas tiveram conhecimento dos benefícios do projeto que teve início em 2013 na Dinamarca e desde então tem sido reproduzido em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Com a supervisão da coordenadora, a enfermeira docente da Universidade Santa Teresa, Ana Lúcia de Vasconcelos Pereira, as estudantes iniciaram o trabalho com os recém-nascidos. Segundo a coordenadora, a ideia surgiu para contribuir com a diminuição do estresse dos bebês dentro das incubadoras.

“A ideia partiu das alunas devido ao comportamento agitado dos recém- nascidos que ficam sozinhos na incubadora e muitas vezes não têm o toque da mãe e do pai durante todo o tempo. Então, elas tiveram essa iniciativa através de pesquisas realizadas pelo tema. Estamos há 20 dias no estágio e percebemos mudanças no comportamento dos bebês como ganho de peso, não significativamente, mas importante pra eles nessa etapa inicial de vida”, explicou a enfermeira docente ao Diário Corumbaense.

De acordo com uma das estudantes, Ayune Silva Marassi, só o fato de diminuir a agitação do bebê colabora para seu desenvolvimento. Ayune explica que a perda de peso acontece  nas atividades simples realizadas pelos recém-nascidos, como o ato de sugar o leite. Então, diminuir a agitação, o choro, causados pelo estresse de estar sozinhos na incubadora, é o principal objetivo do tratamento.

“Os bebês ficam mais calmos, se sentem seguros, menos agitados. Assim eles perdem menos peso, pois não gastam energia, não ficam chorando, se mexendo muito. O recém-nascido prematuro perde peso com muita facilidade, só o ato de mamar, sugar, já faz isso. O fato de eles estarem mais calminhos, se sentindo seguros, diminui essa perda do peso, ajuda no sistema imunológico e outras funções metabólicas. Os tentáculos remetem à semelhança com o cordão umbilical e a criança quando está dentro do útero fica abraçada, mexe com o cordão umbilical, então, na incubadora, eles ficam mais calmos tendo contato com o polvo”, explicou a acadêmica.

Divulgação

As acadêmicas e a supervisora Ana Lúcia Vasconcelos com os polvos confeccionados

Todas as precauções são tomadas para que não haja riscos aos recém-nascidos. Segundo elas, o cuidado começa por oferecer o tratamento apenas aos bebês estáveis, que não têm algum problema relacionado ao sistema imunológico. Também são tomados cuidados em relação à higienização dos polvos, confeccionados com material 100% algodão. A acadêmica Elaíze Teixeira Barreto de Freitas informou que os objetos são lavados com sabão neutro e após totalmente secos são embalados antes de serem colocados em contato com os bebês.

“Por hora, nós confeccionamos com o cuidado de realizar a higienização das mãos antes de iniciar o manuseio. Essa é a orientação repassada aos voluntários. Lavamos depois de prontos com sabão neutro e fazemos a secagem total antes da entrega para os bebês. Os recém-nascidos que por exemplo possuem alguma limitação no quadro clínico ou qualquer restrição médica, não recebem. O polvo fica em contato apenas com uma  única criança, não há compartilhamento entre os bebês”, destacou Elaíze.

Após  os meticulosos procedimentos de higienização, as acadêmicas realizam o contato com as mães, explicam sobre a finalidade e possíveis benefícios  do projeto e ouvem de todas comentários positivos. “As mães acham bonitinho, a gente explica como funciona e elas ficam felizes porque os filhos estão sendo presenteados. Toda mãe gosta disso e elas recebem bem. A primeira pergunta é se o bebê vai ficar com o polvo e se o objeto vai poder ser levado para casa. Elas nem acreditam”, comentou uma das estudantes.

Divulgação

Os polvos de crochê fazem parte do projeto “Entrelaçados no amor”

Atendimento mais humanizado

Ao Diário Corumbaense, o secretário municipal de Saúde, Rogério Leite, defendeu que projetos desenvolvidos pelos estagiários que passam pelas unidades de saúde de Corumbá sempre acrescentam no desenvolvimento dos programas de atendimento mais humanizado aos pacientes. O secretário destacou que o projeto específico faz parte da filosofia da “Rede Cegonha”, que se trata de uma estratégia do Ministério da Saúde que visa implementar uma rede de cuidados para assegurar às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e a atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como assegurar às crianças o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis.

“É importante que a gente tenha essa interação entre o estagiário e o profissional que está há muito tempo no serviço. É muito bom quando eles já vêm com os projetos que são lançados tanto pelas universidades quanto pelo Ministério da Saúde que possibilitam fazer um atendimento mais humanizado e que tragam benefícios para o paciente, que é o grande propósito. Toda a nossa maternidade, nosso hospital, a rede de saúde do município são vinculados em relação a isso. O projeto do polvo realmente é uma situação que faz com que o recém-nascido seja melhor atendido, tenha mais esse contato com a família, com a mãe e possibilita um melhor cuidado com esse bebê. Nós estamos fortalecendo nossa rede de saúde, principalmente a Rede Cegonha que vai fazer que tanto a gestante tenha seu atendimento mais humanizado com esses projetos vindos das universidades até após o parto, como com o projeto polvo”, avaliou o secretário.

Atividade além dos livros de enfermagem

Quando surgiu a ideia de implantar o projeto em Corumbá, uma situação teve que ser resolvida e as integrantes do grupo tiveram que aprender uma atividade que não estava em nenhum dos livros de enfermagem. O crochê. Das oito integrantes, duas tinham habilidade com as agulhas e linhas: Ayune e Elaize. Coube a elas ensinar a arte às futuras profissionais de saúde.

Ayune relata que a aceitação foi positiva e todas acabaram se encantando com a arte. “A receptividade foi excelente, as meninas adoraram. A equipe foi muito receptiva e está dando certo”, relatou Ayune.

Continuidade

Com o estágio terminando, as acadêmicas Ayune Silva Marassi, Elaize Teixeira Barreto de Freitas, Elza Taynara Soares da Costa, Gabrielly da Silva Moreira, Jullyane Moreno de Almeida, Natalia Maçavi, Suelen Duarte da Silva e Lohane Gleice de Oliveira, agora estão empenhadas em trabalhar para que o projeto não termine em Corumbá. Para isso, elas se comprometeram a ser voluntárias. As jovens também buscam parceiros na compra dos materiais e também para a confecção dos polvos.

“Nosso estágio está terminando e outro grupo deve desenvolver outros projetos. Entretanto, nós nos comprometemos a continuar mesmo não estando mais no setor. Vamos continuar arrecadando linhas, fazendo os polvos e entregando", garantiu Ayune lembrando que ainda estão estudando uma maneira de receber doações.

Para conhecer o projeto e saber como ajudar, as pessoas podem ligar no telefone (67) 9 9622-4383 (Elaize).

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