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Por chancela mundial, Forte de Coimbra fortalecerá ações de candidatura junto à Unesco

Lívia Gaertner em 07 de Maio de 2018

Graças a uma construção de alto valor histórico, Corumbá pode colocar Mato Grosso do Sul dentro do mapa de Patrimônio Cultural Mundial. O processo para esse reconhecimento teve início com a candidatura do Forte de Coimbra, construção datada de 1775 e localizada na região de Coimbra, à chancela internacional.

Somente no Brasil, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) já reconheceu quinze construções ou complexo delas com o título de Patrimônio Cultural Mundial.

O Forte de Coimbra foi selecionado junto a mais 18 fortificações para receber o reconhecimento e todo o processo segue uma agenda de ações até o aval da instituição internacional.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Construção busca reconhecimento mundial junto à Unesco, podendo ser a primeira com essa chancela dentro de MS

Tombado como Patrimônio Cultural Material do Brasil, o Forte de Coimbra figura como a primeira construção dentro do território sul-mato-grossense a receber esse registro no ano de 1974.

Esse é um dos motivos pelos quais o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), por meio de sua Superintendência em Mato Grosso do Sul, vem encabeçando junto a demais órgãos, entidades governamentais e não governamentais, além da comunidade local, o longo processo até o momento de avalição da Unesco.

Na última sexta-feira, 04 de maio, técnicos da Superintendência do Iphan em Mato Grosso do Sul reuniram-se com representantes de instituições militares, públicas e entidades ligadas à cultura e ao turismo, no Escritório Técnico do instituto em Corumbá, para uma prévia discussão sobre a programação da Oficina Técnica para Desenvolvimento da Candidatura a Patrimônio Mundial do "Conjunto de Fortificações do Brasil", que acontecerá entre os dias 21 a 23 de maio em Corumbá.

“Esse processo é extremamente importante para preparar os envolvidos que irão futuramente participar da construção da gestão e dinâmica das atividades turísticas desse bem cultural enquanto Bem Seriado a ser reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco. O reconhecimento pela Unesco irá trazer protagonismo ao Forte de Coimbra, fortificação característica luso-brasileira, o que atribui valor para o reconhecimento enquanto Patrimônio Cultural da Humanidade”, disse Maria Clara Scardini ao Diário Corumbaense.

Na reunião prévia ainda foi tratada a programação da Oficina que contará com a presença de técnicos do Iphan vindos diretamente de Brasília. Também será reservado um dia para a visitação ao Forte de Coimbra com apoio do Exército Brasileiro. Além disso, foram repassadas informações sobre as oficinas e apresentações, que por fim terá a finalidade de formar um Comitê Técnico local com as instituições e demais atores envolvidos no processo.

Diário Corumbaense

Prévia de oficina técnica aconteceu na 6ª feira em Corumbá; discussões acontecerão entre os dias 21 a 23 de maio

Resistência

O território do município de Corumbá, sem sombra de dúvidas exerceu grande poder estratégico dentro da defesa do país, principalmente pela sua localização, o que o levou a ser palco de batalhas históricas, dentre as quais, as fortificações exerciam importante instrumento defensivo.

Distante cerca de 150 quilômetros da área urbana de Corumbá, a região onde a fortificação foi elevada em 1775 e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) 200 anos depois, em 1975, é um dos pontos históricos e turísticos do município.

Registros históricos mencionam intervenções de Nossa Senhora do Carmo para livrar o Exército brasileiro de investidas inimigas. Em 17 de setembro de 1801, quando um Exército espanhol (600 homens, navios e 30 canhões) tinha ordem de ocupar o lugar na disputa pelo território com Portugal, após nove dias de batalha, a vitória espanhola não foi completa graças à santa. Os inimigos bateram em retirada ao verem a imagem de Nossa Senhora na entrada do forte.

Porém, o fato mais conhecido ocorreu durante os embates da Guerra da Tríplice Aliança, quando o Exército paraguaio, que somava três mil e duzentos homens aliados às forças de 41 canhões; 11 navios e farta munição, cercaram o forte em 27 de dezembro de 1864. Em número bem inferior, apenas 149, os brasileiros resistiam sob o comando do tenente-coronel Hermenegildo de Albuquerque Portocarrero e intervenção mística de Nossa Senhora do Carmo, padroeira do local festejada até os dias atuais na comunidade a cada dia 16 de julho.

Parte dessa história é contada pelo escritor corumbaense Augusto César Proença que descreveu o fato ocorrido em 28 de dezembro daquele ano quando dona Ludovina, esposa do comandante, recorreu à ajuda da fé.

Divulgação

Nossa Senhora do Carmo, padroeira do Forte de Coimbra

"Enquanto as mulheres rezavam em voz alta, tirou do uniforme do marido a faixa que os oficiais usavam como cinta e cingiu com ela a imagem de Nossa Senhora do Carmo, passando para Ela o comando do forte; sim, agora era Ela, a Santa, que iria comandar a guarnição brasileira e dar as ordens! Em seguida, chamou um soldado-músico e pediu que a levasse até às muralhas e a erguesse aos olhos do inimigo. E o soldado, tomado de uma profunda emoção por ter em mãos aquela pesada imagem que tantas graças fizera aos militares da nossa fronteira, ergueu-a o mais que pôde e bradou! Viva Nossa Senhora do Carmo, Viva!...

O repentino aparecimento da Santa causou espanto, admiração, espécie de encantamento aos paraguaios. Houve um instante de indecisão antes que o sentimento religioso abrandasse a brutalidade da luta. - Viva Nossa Senhora do Carmo!... - o soldado continuava a gritar. E brandia a imagem da Santa Padroeira, erguia-a em vários locais daquelas muralhas, clamava pela fé do inimigo, tremulando a Santa nas mãos como uma bandeira de paz.

O poder da Virgem foi tanto que os tiros começaram a cessar e do silêncio que se fez depois brotou a comovente resposta dos paraguaios. Deixaram de lado as baionetas, os fuzis, os canhões e também gritaram, empolgados: "Viva! Viva! Viva Nuestra Señora del Carmem!...Viva!...".

A batalha foi retomada, porém logo chegou a noite interrompendo mais uma vez o confronto. Na manhã do dia seguinte, 29 de dezembro, os paraguaios alcançaram o interior do forte, mas não encontraram nenhum brasileiro que bateu em retirada.

“As mulheres e as crianças embarcaram primeiro. Ninguém deixou o posto de vigilância sem que para isso recebesse ordens. Mandou arriar a bandeira segundo as honras militares.

Inspecionou todo o recinto e certificou-se de que não havia mortos nem feridos entre os seus. A imagem de Nossa Senhora do Carmo foi conduzida pelas mãos de um filho de um militar da aldeia. Os índios guaicurus, que auxiliaram os brasileiros nesse episódio, tomaram o rumo das trilhas, embrenharam-se nas matas conhecidas. E, superlotada, a canhoneira brasileira foi se afastando do Forte de Coimbra sem levar um tiro do inimigo que, tudo indicava, estava de vigília naquela noite chuvosa e escura".

Patrimônio Natural Mundial

Corumbá já se encontra dentro do mapa da Unesco, porém como  Patrimônio Natural Mundial devido ao reconhecimento do Pantanal como uma área protegida envolvendo quatro zonas que totalizam uma superfície com quase 188 mil hectares, evolvendo as cabeceiras dos rios Cuiabá e Paraguai. Essa porção protegida representa 1,3% do Pantanal localizado nos limites do território brasileiro, abrangendo áreas limítrofes com a Bolívia e Paraguai. Dentro desse território estão terras corumbaenses onde está situada a Morraria do Amolar.

Comentários:

Arthur Emmanuel: A Guerra de 1801 que resolveu problemas de distribuição de territórios entre Portugal e Espanha na Europa e América do Sul, por isso considerada um conflito internacional, precisaria ser melhor historicizada para candidatura do forte.

Eurico Franco Soates: É com mera satisfação que elogio esse paraíso de sossego onde vi meu casal de filho crescer e tendo uma infância valoroza junto com seus amiguinhos hoje morando na cidade de Nioaque MS relembro como se fosse hoje o dia em que pissei as margens dessa Fronteira no ano de 1993 a 2009 tenho muita saudade desse lugar onde fiz muitas amizades só tenho a dizer que Forte de Coimbra merece esse status Pantanal Brasil

Lourival Ferreira de Almeida: Serví ao Exército Brasileiro por quase três anos em Forte Coimbra e ao tomar conhecimento de sua história passei aadimirá-lo como um dos principais ícones representativos do Brasil.Tive a oportunidade de ler no livro de registro elaborado à mão e em caligrafia gótica toda a bravura e dedicação dos militares da época e dos índios da região que bravamente defenderam aquela fortificação. Os moradores de Coimbra nos dias atuais tem dedicado sua veneração e amor por considerarem como sua terra natal e como eternos defensores dos sacrifícios de seus ancestrais.