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Instalado em Corumbá, entra em operação o maior frigorífico de jacarés do Brasil

André Navarro em 21 de Setembro de 2017

O maior frigorífico de jacarés do Brasil, com o Sistema de Inspeção Federal (SIF), foi inaugurado em Corumbá nesta quinta feira, 21 de setembro, com as presenças do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi; do governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja; do prefeito da cidade, Ruiter Cunha, políticos e convidados. Capaz de abater 600 animais por dia, a Caimasul, além da carne, também vai comercializar o couro do jacaré.

“Nós já temos uma produção estimada em sete toneladas. Primeiro, estamos prestigiando a casa, ou seja, vendendo para o próprio Mato Grosso do Sul, depois, vamos vender essa carne para São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais e outros Estados que já estão entrando em nosso rol de clientes novos”, disse o diretor comercial da Caimasul, Weber Girardi. Ele adiantou ainda que o empreendimento, que custou R$ 30 milhões, vai ter um rendimento médio de R$ 5 milhões por mês e empregar cerca de 200 pessoas entre os funcionários que trabalham na sede e os ribeirinhos coletadores de ovos na natureza.

Os números são expressivos, levando-se em conta que trata-se de um animal exótico. “Não dá para comparar com o bovino, mas, hoje começando com 2.300 animais abatidos por mês, nós consideramos que é um volume significativo de carne”, afirmou Girardi ao Diário Corumbaense. Para o futuro, a intenção é chegar a 35 toneladas por mês com uma estrutura sofisticada e que acrescentou muitas inovações em tecnologia em relação a outros empreendimentos existentes no Brasil.

O faturamento previsto de R$ 5 milhões, é apenas com carne, já que a intenção também é trabalhar com o couro e com artesanato feito do jacaré. “Nós vamos oferecer cursos de taxidermia e também de artesanato para pessoas aqui da cidade, para que elas possam aprender a trabalhar com os subprodutos do jacaré”, afirmou Raul Amaral Campos Filho, diretor-presidente da Caimasul.

Exploração econômica da biodiversidade

Durante a inauguração do frigorífico, além das autoridades, estavam presentes muitos técnicos e ambientalistas, entre eles, os representantes do Ministério da Agricultura, do Ibama, do Sistema de Inspeção Federal e da Embrapa/Pantanal, esta última, instituição que defende o abate sustentável de jacarés há cerca de 30 anos.

“Nós vislumbramos no Brasil da pesquisa, o potencial que as nossas riquezas biológicas representam para o país, e o jacaré é uma delas. O que nós estamos vendo é a consolidação de uma cadeia produtiva da biodiversidade”, disse o pesquisador Marcos Eduardo Coutinho, da Embrapa, que hoje está cedido para o Ibama. Coutinho, há três décadas, estava na Embrapa Pantanal, em Corumbá e foi um dos primeiros a falar em utilizar os jacarés, cujas populações são abundantes na planície, como fonte de renda da economia.

Segundo ele, a implantação do frigorífico é um grande salto que o Mato Grosso do Sul está dando para a exploração econômica da biodiversidade. Ele afirmou que existem regras claras para o manejo, de forma a evitar rejuízos ao meio ambiente, e que a empresa vem seguindo essas normas. ”Ela é um exemplo de colocar em prática toda a informação gerada pela Embrapa Pantanal há 30 anos. A indústria está contribuindo para a conservação, à medida que você agrega valor, o interesse maior vai ser conservar”, garantiu o pesquisador.  

Para o prefeito de Corumbá, Ruiter Cunha de Oliveira, a data de inauguração foi escolhida de forma especial, justamente no dia em que a cidade fez o seu aniversário de 239 anos. Segundo ele, as expectativas de faturamento e vagas no mercado de trabalho devem agregar muito à economia corumbaense. “O poder público tem que fomentar, tem que ser parceiro, o município foi parceiro em todas as etapas até agora, nós entramos com o profissional capacitado para a liberação do SIF, que é uma exigência, enfim, é uma iniciativa ímpar e todos têm que se ajudar”, afirmou o prefeito a este Diário.

“É uma diversificação econômica, uma alternativa nova para Corumbá, que agrega valor, gera emprego, melhora a economia local e é uma nova fonte de renda para os empresários que investiram aqui”, avaliou o governador Reinaldo Azambuja. Ele, que é do ramo da agropecuária, disse que o agronegócio é muito amplo e garante que a oferta da carne de jacaré ajuda inclusive a fomentar o turismo no Estado. “Essa diversificação econômica que fortalece essas atividades que são importantes para agregar valor aos nossos produtos e gerar oportunidades de emprego e renda”, enfatizou.

Já o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, criticou a falta de participação do Banco do Brasil no empreendimento. “Os investimentos não são pequenos, passam da ordem de vinte e cinco milhões de reais. O Ibama ajuda, o Ibama diz que quer alguma coisa parecida, os órgãos estaduais ajudam, mas o Banco do Brasil que é um banco de fomento, que tem que ajudar a desenvolver novos programas, acaba ficando com medo desse tipo de investimento, não acredita e portanto, foge do investimento”, disse Blairo ao afirmar que vai conversar pessoalmente com o superintendente de agronegócios do BB para abrir as portas para novas negociações necessárias para ampliação das atividades do frigorífico.

O ministro ressaltou o ato de coragem dos donos do empreendimento e revelou que, se não houve investimentos do Banco do Brasil, o negócio tem sócios bolivianos. “Parabéns aos sócios brasileiros, aos sócios bolivianos, que também investiram aqui e eu tenho certeza que vocês terão muito sucesso nesse empreendimento. O caminho a ser seguido, ele já foi iniciado, vocês têm que ir atrás de mercado, abrir o mercado, e tudo aquilo que depender do Ministério da Agricultura, vocês podem contar conosco”, concluiu.

A prioridade é para mão de obra local

Assim como os que vão beneficiar o couro, a Caimasul capacitou pessoal de Corumbá para o frigorífico. Dos 38 funcionários que trabalham na planta, apenas dois vieram de Cáceres onde trabalhavam em um outro frigorífico de jacarés. O restante é da cidade, sendo que alguns foram capacitados aqui mesmo e outros foram até outros municípios aprender o manejo correto do animal.

O abate é feito praticamente como o do boi, com pistola pneumática. Os jacarés são engordados no máximo até dois anos de idade, época em que atingem um peso médio de 10 kg. Depois do abate, esse peso cai muito e uma carcaça oferece apenas 3,5 kg. “Este é o tamanho e o peso ideais para o abate”, garantiu Weber Girardi.

No frigorífico, onde serão 200 funcionários no total, também trabalham a equipe administrativa, os funcionários da manutenção e os técnicos que mexem com os jacarés o dia inteiro, alguns na industrialização da comida que é feita lá mesmo, outros no trato diário e tem também os responsáveis por cuidar da chocadeira onde nascem os filhotes.

Os coletadores dos ovos, em sua maioria, são moradores ribeirinhos espalhados pelo Pantanal. Eles coletam um percentual dos ovos de cada ninho, deixando o suficiente para a fêmea chocar e fazer os filhotes na natureza. Os ovos são levados para a Caimasul, onde vão para uma chocadeira elétrica, até eclodirem e nascerem os filhotes.   

Galeria: Frigorífico Caimasul

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