Da Redação em 14 de Julho de 2017
Fotos: Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Sebastião trabalha fabricando viola de cocho desde a adolescência em Ladário
O ex-ferroviário e cururueiro, Sebastião de Souza Brandão, de 73 anos, conhecido como “Seu Tião” fabrica violas de cocho desde a adolescência, em Ladário. Filho de Inácio Brandão, antigo cururueiro, Sebastião dedica sua vida para preservar a memória da tradição pantaneira. No entanto, no último fim de semana, ele teve uma surpresa: a principal ferramenta de trabalho foi furtada. Uma motosserra modelo MS 210, fundamental para a produção da viola foi levada, impossibilitando a fabricação artesanal de um instrumento considerado patrimônio histórico-cultural de Mato Grosso do Sul.
Segundo o cururueiro, ele tem duas motosserras, mas, somente a ferramenta furtada tinha bom funcionamento. A outra está estragada, e para mandar arrumar não compensa, já que o valor equivale a quase uma nova. Ele tinha comprado o motosserra furtada há dois anos e a utilizava sempre para a produção do instrumento que é vendido na região. Na época, a motosserra foi adquirida pelo valor de R$ 1.500. “No domingo, antes de ir almoçar com a minha família, percebi que minha motosserra tinha sumido. Ela estava no local de trabalho onde sempre costumo deixar os materiais que utilizo. Quando não estou ocupando a sala, deixo trancada com cadeado. Acho que ela pode ter sido levada no sábado e só fui perceber no outro dia”, contou ao Diário Corumbaense.
Ainda de acordo com Sebastião, após perceber que a ferramenta tinha sumido na sala de trabalho, foi até a delegacia registrar o caso, mas somente na segunda-feira conseguiu fazer o boletim de ocorrência. Não é a primeira vez que a residência do cururueiro é alvo de furto, mas por causa do ocorrido, a fabricação de viola ficou interrompida. “Normalmente leva de 5 a 6 dias para produzir uma viola. Elas custam entre R$ 7 e R$ 300. Com a motosserra, uma ferramenta mais moderna fica mais fácil de fazer, dá para fazer três peças utilizando apenas um tronco de madeira, já com o machado fica mais trabalhoso e demora mais”, explicou.
A preocupação do ex-ferroviário, é com workshop que está marcado para novembro, durante o Festival América do Sul. Promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o workshop ensina a produzir a viola de cocho, e dependendo do número de alunos, a quantidade de violas pode ser maior ou menor. "Normalmente, faço 15 violas para ensinar os alunos, e como não tenho ajuda na produção, a falta da motosserra pode me prejudicar. Além disso, sempre tem gente interessada em comprar o instrumento e agora não tem uma para vender", lamentou o cururueiro Sebastião.
Sem a motosserra, a fabricação do patrimônio histórico-cultural do estado foi interrompida
Em prol da cultura
Graças ao trabalho conhecido de Sebastião, algumas pessoas já se prontificaram a ajudá-lo. O gerente da Fundação de Cultura de Ladário, Alexandre Ohara, propôs doar a viola de cocho comprada por ele do curureiro há dois anos e realizar uma rifa para arrecadar o valor necessário para a compra de uma nova motosserra.
“A ideia foi minha, depois que ele veio na Fundação relatar o que aconteceu. Fiquei sensibilizado com a situação e resolvi ajudar. Como no momento não temos como comprar uma motosserra pela Prefeitura, estamos fazendo essa ação entre amigos para arrecadar o dinheiro”, contou o gerente a este Diário. O numero da fila é vendida ao valor de R$ 10 e o sorteio será no dia 04 de agosto, às 14h, na Fundação de Cultura de Ladário. “Quem quiser colaborar vendendo ou comprando números da rifa, basta procurar a Fundação de Cultura ou o Sebastião”, convidou Alexandre Ohara. Informações pelos telefones (67) 3226-1338 e 9 8472-1946.
“Trem fantasma e a Viola de Cocho”
Sebastião Brandão foi operário da ferrovia por 19 anos e é cururueiro desde a infância por influência da família do pai. Ele foi o único representante do Centro-Oeste na edição do Revelando os Brasis V e roteirizou, produziu e dirigiu o curta-metragem de 15 minutos, com o nome “O Trem Fantasma e a Viola de Cocho”, exibido pelo Canal Futura (TV por assinatura) entre os dias 30 de setembro e 04 de outubro de 2016. A obra integra o projeto “Revelando os Brasis”, do Ministério da Cultura.
O filme conta ao som da viola de cocho, o reencontro, as lembranças e a memória afetiva de ex-ferroviários que trabalharam na construção da linha férrea de Ladário e viveram muitas histórias, incluindo uma lenda sobre um trem fantasma que aparecia nos trilhos da região, mas nunca chegava.
No Diário Corumbaense, os comentários feitos são moderados. Observe as seguintes regras antes de expressar sua opinião:
Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião deste site. O Diário Corumbaense se reserva o direito de, a qualquer tempo, e a seu exclusivo critério, retirar qualquer comentário que possa ser considerado contrário às regras definidas acima.