Camila Cavalcante e Thaissa Leone em 23 de Junho de 2017
Fotos: Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Missa foi celebrada logo cedo na casa da festeira Reginalda
“Uma prima nossa fez uma promessa por saúde para São João e após terminar essa promessa, ela não faria mais a festa. Meu irmão, Antônio, pediu à minha mãe para dar continuidade e ela concordou, apesar de saber que não tínhamos condições. Ela atendeu ao pedido do meu irmão, se comoveu e até hoje fazemos essa festa”, explicou Reginalda ao Diário Corumbaense.
Durante o mês de junho, a casa de dona Reginalda vira a casa de São João, pois são tantos amigos, familiares e turistas que passam por lá para deixar seu agrado ao santo, conhecer a devoção, que é impossível crer que a festa dure apenas em junho. A família parece ser movida pelo santo o ano todo. “A minha casa é aberta para toda a comunidade do bairro Universitário. Vamos fazendo bingos, rifas, recebemos doações de amigos e assim é nossa comemoração. Fazemos nossos festejos de coração, com muita alegria, com devoção, como deve ser, pois São João intercede por nós em cada momento de nossa vida. Temos muitos devotos que nos procuram e alcançam sua graça, aqui é uma casa de São João, de muita fé”, explicou.
Dona Reginalda (à direita) herdou a tradição da mãe, dona Concha, já falecida
Há alguns anos a festança de "Nhá Concha" tomou grande proporção: conta com adereços confeccionados por familiares e colaboradores, como bandeirolas, ornamentos florais, além de camisetas padronizadas. É uma festa que cresce a cada ano. Atualmente, o Arraial de Nhá Concha, ocorre na Alameda Sônia, número 55, na casa de dona Reginalda e dura mais de 10 dias de celebração.
“Nossa festa começa com novena, depois, dia 22 tem o festejo e a procissão das crianças, é a preparação dos futuros festeiros. No dia 23, temos a missa às 08 horas da manhã, depois temos o café da manhã. À noite, às 19 horas começamos com a reza, o terço e às 23 horas, descemos com o São João e todos seus devotos para banhá-lo no rio Paraguai. Retornamos então para minha casa, com muita alegria, onde a festa continua até o amanhecer. O encerramento é dia 29 de junho, dia de São Pedro, quando descemos o mastro de São João”, salientou dona Reginalda.
Missa e café da manhã
Este ano, a missa foi celebrada na casa da dona Reginalda, pelo padre Celso Ricardo, pároco da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, em Ladário. “É de costume na festa de São João Batista e de alguns outros santos, convidarem o padre para vir celebrar missas nas casas. É um momento de festa, de alegria, momento de união entre os fiéis, que vêm para cá para se encontrar e festejar. Eu, como padre da cidade de Ladário, também sou convidado por amigos e famílias de Corumbá para vir celebrar a santa missa. As missas nas casas é muito importante porque antigamente elas eram realizadas nas casas quando começou, aí depois de algum tempo foi para os templos, que hoje chamamos de Igreja", explicou o padre a este Diário.
Após celebração da missa, foi servido o café da manhã comunitário
A dona de casa, Luzinete Dias Rodrigues, de 52 anos, participa das missas há 23 anos por causa do marido que é parente de dona Reginalda. “Acho muito interessante ter um padre nas casas de famílias. Ter ele próximo falando sobre São João Batista, com a presença de crianças e adolescentes é muito bom para unir as pessoas. Todos os anos eu venho junto com meu marido e também vou junto com outros fieis até o banho de São João no rio e ainda fazemos novena sete dias antes da missa”, contou.
Eugênia Vera, de 41 anos, participa há 20 anos da missa e do café da manhã. “A missa é uma renovação da fé para a família. Não queremos perder, e com a missa incentivamos os familiares e amigos desde criança até adultos a terem sua fé, serem devotos de São João. Nós nos organizamos durante o ano e custeamos tudo, principalmente com o café da manhã. Quem vem para a missa não colabora financeiramente. Tem muitas pessoas que vêm de outros bairros. Têm familiares e conhecidos que vêm de Campo Grande e São Paulo todo ano para este missa”, frisou.
“Em lugar nenhum temos uma festa como a nossa. Levamos São João para a beira do rio Paraguai, reproduzimos a passagem bíblica de quando João Batista batiza Jesus Cristo. Tenho muita fé em São João, ele curou meus filhos da bronquite, me amparou em momentos que mais necessitei e auxilia a todos aqueles que o procuram. Estamos em um período bem difícil, onde somente a fé nos ampara”, concluiu a festeira Reginalda Mendes Vera.
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