Campo Grande News em 22 de Maio de 2017
Marcos Ermínio/CG News
Reinaldo Azambuja com os olhos marejados durante entrevista coletiva
Pecuarista em Mato Grosso do Sul, o chefe do Executivo estadual chorou ao falar do seu patrimônio, lembrando que em 2014 – quando declarou à Justiça Eleitoral ter R$ 38,7 milhões em bens –, foi considerado o candidato ao governo mais rico do Brasil. Ao lado da mulher, Fátima Azambuja, e da vice-governadora Rose Modesto (PSDB), ele recordou ainda que já foi acusado de enriquecimento ilícito, mas que denúncias foram arquivadas. O governador ressaltou que esse tipo de acusações faz parte da vida pública.
“Tudo que eu tenho foi constituído pela minha família, meu avô, meu pai e pela família da minha esposa. Meu patrimônio é resultado do trabalho de pessoas honestas, não foi tirando nada de ninguém, vou até as últimas instâncias para provar isso”, afirmou.
O governador destacou ainda que a versão dos delatores não pode ser tida como verdade absoluta. “O lado que aparece hoje é só o lado do delator, parece que o lado do delator é a verdade. Eu tenho 20 anos de vida pública, vou até as últimas consequências para provar minha inocência”, reiterou. Ele afirmou que os donos da JBS jogaram o nome de 1,8 mil políticos “na lama” e que ele já acionou seus advogados para mostrar na Justiça que não cometeu os crimes a ele atribuídos. “Todo cidadão tem direito à defesa, todo brasileiro e brasileira tem esse direito e o governador também”.
Reinaldo admitiu que teve vários encontros com diretores da JBS, inclusive Joesley Batista, um dos donos e delator na Lava Jato. Mas, garantiu que a relação dele com a diretoria do grupo é institucional. “A gente discutia investimentos para o Estado”. O chefe do Executivo estadual fez questão de ressaltar que reduziu incentivos fiscais para a JBS e que por isso, a empresa passou a recolher mais ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação Serviços).
Ele chegou a falar sobre possível retaliação. “Pode ter sido retaliação porque nós não renovamos muitos termos de acordo, não sei o que foi. Acho que foi porque eles tinham que entregar alguém”.
O governador também disse que como pessoa física tem relação comercial com a JBS e que todas as vendas de gado feitas por ele ao grupo são comprovadas por meio das notas fiscais e as GTAs (Guias de Trânsito Animal). Toda a documentação será mostrada à Justiça, assim como farão os outros pecuaristas, alguns deles que têm ou já tiveram cargos no governo, que supostamente emitiram notas para “lavar” o dinheiro da propina que a empresa diz ser destinada a Reinaldo.
Denúncia
Consta na delação, homologada na quinta-feira passada (que Reinaldo teria recebido R$ 10 milhões em espécie, de acordo com um dos delatores, e outros R$ 35 milhões por meio de pagamentos feitos por meio das notas fiscais que seriam falsas emitidas por pessoas físicas e jurídicas. A Buriti Comércio de Carnes seria a empresa participante do esquema, para a qual foram pagos R$ 12.903.691,03 por meio de notas frias expedidas entre maio e julho de 2015.
O restante dos “pagamentos”, boa parte deles feitos em 2016, são referentes a vendas de gado, operações que conforme a delação, nunca aconteceram. A JBS anexou, por exemplo, notas emitidas pelo atual secretário de Estado de Fazenda, Márcio Monteiro (PSDB), no valor de R$ 333 mil, pelo deputado estadual Zé Teixeira (R$ 1,6 milhão), pelo ex-prefeito de Dois Irmãos do Buriti e ex-deputado estadual Osvane Ramos (R$ 583 mil) e ex-prefeito de Porto Murtinho Nelson Cintra (R$ 296 mil).
Após as denúncias, dois pedidos de impeachment contra o governador foram protocolados na Assembleia Legislativa. Sobre isso, o governador disse que é o direito de qualquer cidadão tomar tal atitude e que quando ele for chamado, vai dar todas as explicações. “Não tenho nada a esconder”, garantiu.
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