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Mercado de trabalho absorve cada vez mais mão de obra feminina

Caline Galvão em 08 de Março de 2017

Embora ainda predomine no Brasil a força de trabalho masculina, as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no decorrer da vida, a própria necessidade de crescimento profissional e sua capacidade de trabalho, impulsionaram o mercado de trabalho a absorver cada vez mais mão de obra feminina. Para ter ideia do significado disso, estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que o número de lares brasileiros chefiados por mulheres saltou de 23% em 1995 para 40% em 2015. Nesses vinte anos, embora a participação feminina no mercado de trabalho tenha crescido pouco, em torno de 1,5%, a presença masculina caiu 7,9%.

Fotos: Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Há cinco anos trabalhando como vigilante, Ursula sustenta seu lar e suas duas filhas

Quem estuda na unidade da UFMS/CPAN localizada no Porto Geral de Corumbá, já está acostumado a ver Ursula Recalde Perez trabalhando. Com fardamento e postura profissional, a vigilante exerce sua função há cinco anos e nunca enfrentou dificuldades no emprego por ser mulher. Ela acredita que o mercado de trabalho se expandiu para o público feminino por causa do acesso à informação. “O preconceito tem diminuído bastante, a mulher brasileira e as mulheres do mundo todo têm investido na sua carreira, têm sido chefes de família, isso levou a mulher a se expandir no mercado de trabalho, tanto pela dificuldade da vida quanto pelo próprio interesse”, afirmou a vigilante.

Ainda com poucas mulheres brasileiras no setor de segurança, Ursula tem percebido que o número delas empregadas na área tem crescido. “Há dez anos, havia um número mínimo de mulheres trabalhando como vigilantes, hoje eu vejo que aumentou o índice pelo seu poder de execução da atividade e pela forma como ela pode se adequar ao trabalho”, acredita. Ela afirmou que realmente ainda há rejeição do mercado de trabalho para empregar mulheres, mas elas estão conseguindo driblar isso com o tempo.

Ursula espera que, com o decorrer dos anos, as mulheres continuem progredindo em todos os setores profissionais. “Por a gente ser mulher, os homens pensam que nós somos um sexo frágil, mas somos muito fortes. Muitas vezes carregamos nossa família, carregamos nossos filhos sozinhas, sem pai. Espero que este seja um grande progresso feminino, que possamos nos expandir no mercado, também na área industrial, que sejamos um sucesso no mundo todo”, disse a vigilante que sustenta a casa e cuida sozinha das duas filhas.

Gerente de loja, Taciane acredita que ainda há dificuldade para a mulher chegar aos cargos de chefia nas empresas

Para Taciane Leite Calonga, gerente de loja de departamentos, o mercado de trabalho realmente cresceu para as mulheres. “Ainda há um pouco de resistência, mas a mulher a cada dia está conquistando cada vez mais seu espaço no mercado de trabalho”, disse. Ela acredita que ainda existe dificuldade para as mulheres alcançarem cargo de gerência. “Há bastante dificuldade porque ainda há pessoas que acreditam que só o homem pode alcançar um status profissional bom, só que a gente vem provando o contrário”, afirmou a gerente. Embora seja respeitada em seu local de trabalho, ela percebe que ainda é muito difícil para o homem aceitar a liderança de uma mulher. “Espero que essas pessoas que ainda têm preconceito com relação à mulher estar crescendo profissionalmente acabe porque a mulher tem a mesma capacidade de trabalho que o homem, e às vezes até melhor”, disse Taciane.

A psicoterapeuta Rosiene do Espírito Santo Mauro acredita que o que as mulheres querem hoje é provar que sua capacidade profissional é tão boa quanto a dos homens. “Falta a mulher se impor um pouco mais, não de  maneira agressiva, mas mostrar que somos iguais em relação ao homem. Se formos pensar, há uma questão histórica, a sociedade por muito tempo mostrou que o homem é 'melhor'. Nós precisamos mostrar que somos iguais e podemos ganhar tanto quanto eles. Ela precisa mostrar seu valor, se capacitar, estudar cada vez mais e mostrar que é tão capaz quanto o homem. Temos que  mostrar que não somos coitadinhas ou vítimas, mas precisamos ter maturidade, equilíbrio, sermos mais fortes”, afirmou Rosiene ao Diário Corumbaense.

Pela mulher ser naturalmente mais emotiva, isso pode ser um obstáculo no mercado de trabalho. “Às vezes isso é uma dificuldade. O homem não é mais forte, mas segura mais as emoções. A mulher chora, tem sentimentos, é espontânea. A mulher não precisa ser mais dura, mas chorar no momento certo, ser mais equilibrada. Não acredito que devam ser 'duronas" porque vejo muitas mulheres que quando são chefes maltratam as outras mulheres, é pior do que um homem, e não é esse tipo de dureza que falo, mas a mulher precisa ter equilíbrio maior e saber mais o que quer”, finalizou a psicoterapeuta.

Psicoterapeuta Rosiene afirma que as mulheres precisam de mais equilíbrio emocional e de se imporem como profissionais

Participação das mulheres no mercado corumbaense cresce, mostra pesquisa

Em Corumbá, o cenário do mercado de trabalho tem, aos poucos, ampliado a participação da mulher. No entanto, a grande maioria dos trabalhadores ainda são homens. “Isso tem mudado ao longo do tempo, mesmo que a taxas pequenas, de 1%, 2%, mas tem mudado. As mulheres estão entrando de forma mais acentuada no mercado de trabalho em Corumbá. Há barreiras culturais, porque sempre vai ter empregador com aquela cabeça mais ortodoxa que pensa que a mulher não é capaz de desenvolver determinadas atividades, como dirigir escavadeira, trabalhar em um grande balcão para fazer estoque de produtos, que são tipicamente atividades masculinas, mas que possuem uma tendência para que as mulheres possam entrar nesse mercado”, avalia o economista Raul Castelão.

Ele enxerga o mercado de trabalho bastante promissor às mulheres, mais do que ao sexo masculino. “As mulheres têm características que são excepcionais. Por exemplo, um pedreiro ou mestre de obras que vai construir uma casa e vai colocar o piso, às vezes ele não dá a devida atenção ao detalhe do formato do piso ou se tem desenho no piso e aí ele põe de qualquer jeito. Já as mulheres são muito meticulosas, olham os detalhes. Qualquer obra construída com olhar feminino, com certeza será uma obra com melhor qualidade do que feita por homem. Esse é um exemplo simples que a gente pode dar em relação à capacidade que a mulher possui em detrimento da nossa. É claro que há atividades onde é necessária força bruta e o homem detém vantagem em relação às mulheres, mas a perspectiva de mercado para mulheres é maior, sem contar que elas trabalham mais sem reclamar, diferente do homem”, afirmou Castelão a este Diário.

Em estudo realizado pelo economista e divulgado no 8º Encontro Científico de Administração, Economia e Contabilidade sobre o mercado de trabalho corumbaense, Raul Castelão avaliou que o número de mulheres sendo empregadas na cidade realmente está crescendo, embora em ritmo lento. De acordo com a pesquisa, os dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) do Ministério do Trabalho revelam que, historicamente, mais de 60% em média dos trabalhadores formais no município são do sexo masculino, contudo, a participação das trabalhadoras tem crescido a uma taxa média de 3,80% ao ano, superior a do homem que é de 2,06%.   

No entanto, a remuneração média, conforme dados do IBGE, ainda mostra que o homem continua ganhando maior salário do que a mulher em Corumbá. Dados de dezembro de 2015 mostram que no setor de extrativismo mineral, o salário médio do homem é de R$ 3.777,00, enquanto o da mulher é de R$ 3.485,00. Na indústria de transformação, essa diferença é ainda maior. Enquanto o homem consegue remuneração de cerca de R$ 2.128,00, a mulher recebe R$ 1.486,00, ou seja, mais de 600 reais de diferença. Até na administração pública, o salário do homem é bem maior que o da mulher. A média masculina é de R$ 3.860,85, enquanto a mulher recebe cerca de R$ 2.992,75. As menores diferenças estão nos setores de comércio, agropecuária e construção civil.