PUBLICIDADE

Novo chefe da Polícia Federal em MS anuncia: “Vim aqui pegar ladrão”

Campo Grande News em 20 de Fevereiro de 2024

Henrique Kawaminami/Campo Grande News

Delegado Carlos Henrique Cotta D’Ângelo assumiu comando da PF em Mato Grosso do Sul

Quinto superintendente da Polícia Federal em Mato Grosso do Sul desde 2018, o delegado Carlos Henrique Cotta D’Ângelo é o primeiro a poder dizer que a nova delegacia de Ponta Porã está em fase de construção, reivindicação antiga em um território de fronteira cobiçado pelas facções criminosas. Mas os R$ 60 milhões em infraestrutura passa longe de ser o ápice de sua satisfação profissional: “Eu vim aqui para pegar o ladrão”.

Há 22 anos na Polícia Federal, D’Ângelo estreia no cargo de superintendente. Antes, já passou por todos os setores – áreas administrativas, policial, inteligência e corregedoria. Graduado em Direito e Administração Pública, o delegado comandou o setor de combate ao crime organizado e esteve à frente de operação contra corrupção em Mato Grosso, no ano de 2019. A última lotação foi no comando da delegacia de Juiz de Fora (Minas Gerais).

Bom de prosa e com disposição para passar o dia concedendo entrevistas à imprensa, o novo superintendente conta que quando aparecia na televisão tanto quanto o ator Reynaldo Gianechini chegou a levantar suspeita de que seria candidato. Mas, para ele, a vida de polícia e de político não se mistura.

"O pessoal achava que tinha pretensões políticas. Mas eu não misturo política com polícia. Polícia veio para prender político”, diz.

Sobre as diversas modalidades de ladrão, é justamente o de “colarinho branco” que mais exige recursos das investigações. 

“Sem dúvida nenhuma exige mais, até pela sofisticação dos crimes que eles praticam. São sempre mais complexos e que demandam uma estrutura investigativa com mais tempo. Além dos problemas característicos da engenharia desse tipo de crime, há barreiras legais. Por exemplo, a prerrogativa de foro. Onde para investigar determinadas pessoas você precisa de uma série de autorizações. Na medida, que você tem informações sobre juízes, políticos, promotores, você tem que pedir licença a um par deles para poder investigar. Coisa que você não tem para nenhum outro cidadão”.

Desta forma, apesar de a corrupção estar em todas as instâncias, só em algumas a polícia alcança. Outro exemplo foi o uso de algemas, que passou por revisão de regras quando os alvos eram pessoas mais influentes e poderosas.

“O casuísmo que é ruim. Porque só agora tem que ter cuidado com as algemas, com transporte no camburão? Não sou contra isso, mas tem que ser para todos. A própria reforma da lei acabou com a improbidade no Brasil. Agora a regra para massa carcerária de sempre, pobres e pardos, continua no mesmo batidão”.

Obras de R$ 60 milhões

Após muitos anos no campo das promessas, a nova delegacia de Ponta Porã, que faz fronteira com Pedro Juan Caballero (Paraguai), começou a ser construída. O custo é de R$ 25 milhões, com previsão de término em dois anos.

Atualmente, a delegacia tem porte acanhado e há pelo menos uma década sofre críticas pela falta de estrutura. Ponta Porã é endereço de exército de “soldados” da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), além de ser corredor para o tráfico de drogas e armas.

Já na fronteira com a Bolívia, uma nova delegacia será construída em Corumbá. A obra deve começar em até três meses. Outros R$ 20 milhões vão para a reforma e ampliação da superintendência da PF em Campo Grande. O local também terá mais dispositivos de segurança, com instalação de tecnologia com reconhecimento facial. 

Sobre as finanças, o novo chefe da PF não abre os números do orçamento, mas diz que não deve faltar dinheiro para custear combustível, viaturas, energia, diárias.

“O que a gente pode dizer é que os valores sempre vão carrear na linha do ‘são sempre inferiores’ à necessidade' Mas tiveram um suplemento com relação a 2023. Então, para se manter o que se fez no ano passado, os recursos estão garantidos, estão tranquilos. E temos recursos para reformas prediais, estamos falando de R$ 60 milhões para essa parte estrutural”, afirma D’Ângelo. 

Efetivo, tecnologia e parcerias

O combate às organizações criminosas na fronteira vai reunir as vertentes de efetivo, tecnologia e integração entre as forças policiais. 

“Você não substitui o ser humano 100% com a tecnologia. E não adianta colocar uma quantidade em massa sem tecnologia. O caminho vai ter que ser esse. Para além disso, a gente tem muita expectativa com a palavrinha da moda, que muito se fala, mas pouco se aplica, que é integração entre as forças. Daí a razão desse projeto Ficco. Participei da criação dele há 12 anos em Minas Gerais. É muito difícil porque o Brasil não tem essa cultura de integração entre as forças”, afirma o delegado.

Em dezembro de 2023, uma  sala de controle foi montada dentro da Superintendência da Polícia Federal, em Campo Grande,  para receber o Ficco (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado). O grupo é formado por policiais federais, rodoviários federais, civis, militares, agentes de presídios de Mato Grosso do Sul e da União.

“Imagina, são cinco, seis forças distintas, cada uma com seu orçamento, sua previsão legal. Mas dá certo. É preciso ter muito boa vontade e muito jogo de cintura. E como ali é um problema que aflige todas as forças, vamos juntar todo mundo e fazer esse trabalho. Vigilância por drone, vigilância aérea, muita informática, muito cruzamento de dados para facilitar o trabalho humano”.

Meio ambiente e desmatamento

Além de atuar na repressão do velho conhecido “combo” de contrabando, trafico de drogas e facções criminosas, a PF (Polícia Federal) de Mato Grosso do Sul terá  forte preocupação com a questão ambiental, inclusive, se voltando para o desmatamento do Cerrado.

“Vamos tentar integrar as forças. Por que não um modelo de força-tarefa para a questão ambiental. Aqui tem tudo para isso ser efetivado. Uma área grande, tem o bioma Cerrado, Pantanal”, afirma o delegado Carlos Henrique Cotta D’Ângelo, novo superintendente da PF em MS.

Ele destaca o uso de recursos tecnológicos, como monitoramento por satélite e dados em tempo real de desmatamento, queimadas.

 “Hoje o bioma mais afetado é o Cerrado. Então, temos que volver os olhos para o Leste do Estado, que está sofrendo fortemente o ataque ao Cerrado. Bioma que é o verdadeiro formador das bacias hidrográficas. Acabou com ele, não tem cheia no Pantanal, chuvinha na Amazônia. Mas ele é uma terra boa para plantar milho, soja. É preciso ter esse cuidado, de ver se estão obedecendo os regramentos legais”, concluiu.