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Rapaz que foi baleado na cabeça durante assalto luta para retomar a vida normal

Ricardo Albertoni em 09 de Março de 2018

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Erick ficou internado mais de um mês em Campo Grande e depois de melhora do quadro clínico, voltou para Corumbá

Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo. Sem saber o calibre do perigo, eu não sei d'aonde vem o tiro (...) Perdido em números de guerra. Rezando por dias de paz. Não vê que a sua vida aqui se encerra. Com uma nota curta nos jornais”. O trecho de “O calibre”, uma das canções da banda Paralamas do Sucesso descreve a realidade vivida pelas pessoas vítimas da violência urbana no Brasil. Por pouco, alguns versos não descreveram com exatidão a história de Erick Soares de Almeida, de 22 anos.

Ele foi baleado na cabeça durante assalto na área central de Corumbá no dia 1º de janeiro de 2018. O rapaz sobreviveu para reescrever sua história. Sentado em uma cadeira de fios na varanda da casa da avó, no bairro Guatós, parte alta da cidade, ou deitado sobre um colchão inflável devido as dores na coluna, Erick tem passado os dias desde que retornou de Campo Grande, para onde foi levado em estado grave. O aparelho celular que estava com ele, no momento em que foi baleado e que os ladrões não conseguiram levar, tem sido uma das poucas alternativas para passar o tempo.

Ao Diário Corumbaense, Erick lembrou do momento em que foi covardemente alvejado pelos criminosos pelas costas sem que esboçasse reação, nas primeiras horas de 2018. Diferentemente das primeiras informações que davam conta de que Erick tinha sido baleado na altura da testa, na verdade, o tiro de calibre 22, foi disparado a uma certa distância, enquanto o rapaz estava de costas e acertou a parte de trás da cabeça.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

O celular que estava com ele no momento em que foi baleado e que os ladrões não conseguiram levar, tem sido uma das poucas alternativas para passar o tempo

“Fui passar o réveillon lá na avenida (General Rondon). Após sair do trabalho fui direto pra lá e encontrei alguns amigos. Em determinado momento, fui até um local que as pessoas costumam urinar, atrás do Corumbaense, e acabei abordado por alguns indivíduos, não vi quantos e nem quem, mas sei que era mais de um. Me pegaram pelas costas e disseram: “passa tudo” e atiraram. Eu não reagi, já trabalhei de segurança no carnaval há um tempo atrás e sabia o que tinha que fazer, mas mesmo assim aconteceu”, disse  o jovem lembrando que apenas a carteira que continha R$ 36 e documentos, foi levada.

Depois disso, o rapaz iniciou uma verdadeira batalha pela vida. Passou os primeiros dias no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital de Corumbá e teve de ser transferido para a Capital em uma UTI aérea. Lá, passou por cirurgia e permaneceu internado por mais de um mês.

A mãe, Ivanete Soares de Almeida, que acompanhou o jovem durante todo o período em que ele esteve em Campo Grande, afirmou que a situação mais angustiante era a falta de informação sobre a situação do filho. “Os médicos me disseram que era de risco pelo fato de o tiro ter sido na cabeça, tinha chance de não sobreviver. Não tinham nenhuma posição sobre como ele ficaria, se andaria. Ele se alimentava somente por sonda, foi muito difícil”, lembrou Ivanete. Mais de dois meses depois, já falando e com seu quadro evoluindo, Erick teve alta médica e voltou para Corumbá.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Erick agora conta com o apoio dos familiares para voltar a ter uma vida normal

Quando foi baleado, Erick estava há alguns meses na cidade depois de passar uma temporada em São Paulo. Ele tinha planos de voltar a estudar e fazer curso de mecânica este ano, mas que acabaram sendo interrompidos no primeiro dia de 2018. O rapaz que venceu a morte três vezes, segundo a mãe, agora conta com o apoio dos familiares para voltar a ter uma vida normal.

“Ele nasceu com problema no coração, arritmia cardíaca, quase o perdi. Em meados de 2012, ele foi atropelado, jogado do outro lado da rua e sobreviveu, mas ficou uma semana no CTI em observação. Agora, ele falou pra mim que é igual gato, tem sete vidas, Deus nos livre de passar por uma situação dessa de novo. Pra mim o que importa é que ele sobreviveu e espero que a passagem do ano que vem ele esteja bem melhor que está hoje para poder voltar a ter uma vida normal”, frisou Ivanete.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

A aposentada Pedrosa Soares de Almeida, de 71 anos, avó de Erick, recorreu a Nossa Senhora Aparecida e dedica à ela a recuperação do neto

Protegido por Nossa Senhora

Emocionada, a aposentada Pedrosa Soares de Almeida, de 71 anos, avó de Erick, contou a este Diário que após saber que o rapaz tinha sido baleado, recorreu a Nossa Senhora Aparecida. Sobre a imagem da santa, ela colocou o boné que estava na cabeça de Erick. Segundo dona Pedrosa, os furos da entrada e saída dos projéteis servem como prova do milagre de Nossa Senhora. 

“Daqui mesmo da cama eu rezo. Quando estou boa para andar levanto e venho até aqui pedir proteção à santa. Primeiramente Deus e depois é ela quem o protege. Quando soube que ele estava no hospital, pedi o boné dele e coloquei aqui para que Nossa Senhora intercedesse por ele e desde então já agradeci muito a ela. Sou mãe de 11 filhos e tenho mais de 40 netos, e tenho carinho especial por todos eles”, disse dona Pedrosa.

Erick precisa de fisioterapia e cuidados especiais

Sem parte dos movimentos dos braços e pernas, Erick Soares ainda aguarda atendimento no serviço público de saúde para iniciar a fisioterapia. Como trabalhava há pouco tempo em um bar e não tinha registro em carteira, o rapaz não é amparado por nenhum benefício do  INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Medicamentos e produtos necessários para o atendimento dele, que agora precisa de cuidados especiais, são adquiridos pela própria família ou por colaboradores, como fraldas especiais que foram doadas pelo Lions Clube de Corumbá.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Tiro foi disparado a uma certa distância enquanto o rapaz estava de costas e acertou a parte de trás da cabeça

Conhecido pelo apelido de “Pé”, o rapaz que não dava trabalho e querido por muitos, agora precisa da ajuda e a principal delas é a celeridade do serviço público, destacou a mãe. “Pra mim é difícil ver ele assim, fico em desespero. Ele tem tomado os antidepressivos, às vezes chora demais, é muito difícil pra gente ver ele desse jeito. É ruim ficar nessa demora, dependendo do serviço público. Na madrugada, às vezes não durmo, a musculatura da perna dele enrijece, tenho que fazer massagem, então, qualquer ajuda, até de um profissional que queira oferecer esse serviço de fisioterapia seria muito bem-vinda”, afirmou Ivanete.

Procurado pelo Diário Corumbaense, o secretário de Saúde de Corumbá, Rogério Leite, o Município hoje não conta com serviço de fisioterapia em casa, mas garantiu que vai determinar que as equipes da Saúde da Família e do Melhor em Casa, passem a dar o suporte necessário ao tratamento de Erick.

Depois que a reportagem foi publicada por este Diário, algumas pessoas entraram em contato e fizeram doações como cadeira de banho, materiais de higiene pessoal e uma rifa está sendo preparada para ajudar nos custos. Para saber como ajudar o Erick, o telefone de contato dele é o  (11) 9 4296-6611, ou da mãe dele (67) 9 9600-5899 (Ivanete). (matéria editada na segunda-feira,12, para atualização de informação)

Comentários:

Jocimar alves de campos: Reportagem maravilhosa que nos faz refletir sobre as nossas vidas e a violência descabida e cruel , parabéns ao DIARIOONLINE pela reportagem.

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