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Jogador revelado em projeto voluntário de professor, treina hoje na base do Grêmio

Ricardo Albertoni em 09 de Março de 2018

Saber dominar uma bola, dar um passe de qualidade, saber se comportar durante os vários momentos de uma partida de futebol. Ensinamentos como esses, recebidos no início da formação profissional de um atleta, podem ser fundamentais para definir o jogador que ele irá se tornar. Os fundamentos básicos do esporte fazem a diferença até mesmo para aqueles considerados acima da média, servindo para potencializar as qualidades do desportista.

O Brasil sempre foi um celeiro de talentos para o futebol. Antes, muitos jogadores que alcançavam o estrelato recebiam treinamento tardiamente e conhecimentos técnicos e táticos não eram tão exigidos dentro de um cenário em que o talento individual, na maioria das vezes, fazia diferença. O futebol moderno trouxe a necessidade de jogadores cada vez mais preparados tática e tecnicamente. Neste contexto, as escolinhas de futebol são cada vez mais importantes para o crescimento do futebol brasileiro.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Garotada do projeto "Associação de Futebol Pé na Bola" treina no campo do bairro Popular Velha

Mas, nem sempre os futuros talentos podem arcar com os custos de uma preparação. É pensando nisso que o profissional da área de educação física, Rubens César Balejo, o “Balejinho”, desenvolve há mais de 25 anos projetos para encontrar essas "joias brutas" nos campinhos de Corumbá e Ladário. O treinador, que está montando a “Associação de Futebol Pé na Bola” disponibiliza parte de seu tempo oferecendo gratuitamente aulas de futebol em um campo no bairro Popular Velha, em Corumbá.

O trabalho que é realizado todas às terças e quintas, das 15h às 17h, reúne cerca de 25 a 30 alunos. Ao Diário Corumbaense, Balejinho afirmou que vê a ação como uma maneira de compartilhar o conhecimento que adquiriu ao longo dos anos que atuou no futebol. “Eu ensino desde o básico, desde a área física até o técnico e tático e não cobro nada, é um projeto voluntário meu. Vim do América Futebol Clube, uma equipe muito boa que teve em Corumbá, fui tricampeão juvenil nesse clube, então, ao longo do tempo fomos aprimorando e estamos aí”, disse o professor que também dá aulas para alunos que podem pagar, no Brasileirão.

Mas não basta ter talento para participar das aulas. Além da recomendação médica, os jovens são cobrados pelo bom desempenho nos estudos. Há casos em que o treinador pede para analisar até o boletim escolar dos aprendizes. Mais do que formar grandes jogadores, ele destaca que um de seus objetivos é formar pessoas de bem.

“Para frequentar aqui os jovens devem se comprometer a ir bem nos estudos. Tem um caso que o jovem não passou de ano e o pai queria tirá-lo daqui, mas eu pedi para que continuasse e farei o acompanhamento dele. Assim como existem pessoas que estão trabalhando e já foram meus alunos, que me dão muito orgulho, têm aqueles que, infelizmente, saem do caminho e acabam indo para o mundo das drogas”, contou.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Luiz Eduardo hoje tem 10 anos, mas começou a jogar futebol aos 4, iniciando no salão até chegar no campo

O trabalho do professor já rendeu frutos, entre eles, uma das novas promessas do futebol, o corumbaense Luiz Eduardo Jard Carvalho. O garoto está entre os muitos jovens que receberam os primeiros ensinamentos de Balejinho. Aos 10 anos de idade, Luiz está hoje no Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense da primeira divisão do futebol nacional. Descoberto durante uma competição estadual de futsal em Dourados em 2015, quando foi jogar pela sua ex-escola, Tenir, Luiz foi chamado por um olheiro do Grêmio para participar de uma seleção que aconteceu no fim de 2016. Pelo que desempenhou na “peneira”, ele foi convidado a permanecer no “Imortal Tricolor” para avaliação, onde está até hoje. Para o pai de Luiz, Wando Costa de Carvalho,  os ensinamentos recebidos pelo filho vindos de Balejinho, seu primeiro professor, além de outros como Dori, Sabiá e Cláudio Mineiro, foram fundamentais para que ele chamasse a atenção entre outros muitos jogadores.

“Com quatro anos já treinava com Balejo, já fazia os treinamentos deles. Começou no salão e de lá para cá, ele veio treinando e chamando a atenção dos professores, até chegar no campo. Ele foi jogar um estadual pela escola Tenir e ali foi visto pelo olheiro de uma franquia do Grêmio chamada Pro Gol, de Dourados. A peneira foi em Porto Alegre e fomos no final do ano retrasado. Com dois dias de testes me chamaram e disseram que podia arrumar a mala pra ficar. O prazo era de um ano para avaliação e esse prazo já passou. Então, quer dizer que ele evoluiu e vai continuar na equipe do Sub-11”, disse o pai orgulhoso que agora precisa conciliar o trabalho em sistema de segurança eletrônica com as constantes viagens, já que a família hoje mora em Porto Alegre.

Vestindo uma das principais camisas do futebol brasileiro, Luiz faz questão de não se esquecer de onde veio. Todas as férias, ele visita o antigo professor e outros profissionais que realizam trabalho semelhante, preparando os futuros atletas. Segundo o pai, a presença do garoto serve como incentivo aos outros meninos. “Ele gosta de ver os amigos e isso também serve de incentivo para os outros meninos”, reforçou Wando

“É satisfação pra gente, todas as férias que ele vem pra Corumbá vem treinar com o professor. Me sinto orgulhoso, é um trabalho gostoso de fazer, a gente se sente bem, é gratificante” destacou Balejo.

Luiz segue se destacando em seu clube. Em 2015, quando foi visto pelo "olheiro" do Grêmio, tinha sido artilheiro do estadual de futsal. Em 2017, retornou a Mato Grosso do Sul para jogar novamente a competição pela franquia Pro Gol de Dourados e foi mais uma vez o artilheiro e destaque do time. No “Gauchinho”, competição estadual de base do Rio Grande do Sul, o meia atacante também levou a artilharia e foi campeão em outra competição do estado, o Gauchão. “Estou há um ano lá e estou achando ótimo, já conheci muitos jogadores do elenco profissional e estou aproveitando o máximo para continuar minha carreira, espero que seja no Grêmio”, disse o jovem talento.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Nas férias, Luiz aproveita para visitar os amigos e o professor Balejinho

Dificuldades para manter o projeto

Sem cobrar mensalidade, o professor Balejinho enfrenta grandes dificuldades para manter o mínimo de estrutura aos alunos. O campo de treinamento é utilizado graças a uma parceria com a associação de moradores do bairro. O local, que é limpo pelo Poder Público frequentemente costumava ser frequentado por indivíduos que faziam da área local para uso de drogas. Bolas, coletes e os materiais de treinamento são adquiridos pelo próprio professor com a ajuda de colaboradores.

Balejo convida pessoas ou empresas que se interessarem pelo projeto para que façam uma visita durante os treinamentos que acontecem às terças e quintas, das 15h às 17h, no campo do bairro Popular Velha, localizado na rua Pedro de Medeiros. Eles poderão conhecer de perto o trabalho e talvez até ajudar alguns atletas a participarem de treinamentos em um clube do interior paulista.

“Agora eu recebi um convite do Marília Atlético Clube, para que eu leve alguns jogadores para fazer testes durante uma semana, mas,  dependo dos pais, da ajuda de alguém para que a gente possa se deslocar até lá. Chegando lá, eu tenho alojamento, refeição, tudo de graça, vai ser uma semana de treinamento, ainda não tem data definida, mas já está bem encaminhada essa situação. Só que para ir, preciso de apoio", reforçou. O telefone de contato do professor Balejinho é o (67) 9 9608-8911.