Lívia Gaertner em 01 de Fevereiro de 2018
Fotos: Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Grupo segue viagem há quase 10 dias desde partida do Haiti
Eles deixaram o país de origem há cerca de oito dias e entraram na América do Sul pelo Chile e, posteriormente, ingressaram na Bolívia, país de onde tiveram acesso ao Brasil, ainda que de forma ilegal, já que não possuem visto de entrada e nem de saída da Bolívia, tampouco o visto de entrada no Brasil.
A reportagem do Diário Corumbaense entrou em contato com o grupo que contou que durante a viagem pela Bolívia, a passagem foi permitida mediante pagamento de valores cobrados várias vezes até alcançarem a região de fronteira. Em Puerto Quijarro, eles relatam que tiveram novamente dinheiro e toda a bagagem apreendidos pelas autoridades bolivianas.
Com medo do destino em solo boliviano, eles atravessaram para o Brasil, fixando-se em Corumbá numa casa onde poucos cobertores e colchões tentam trazer um aspecto de abrigo. Muitos permanecem apenas com a roupa do corpo e até uma criança de 02 anos de idade, única menor do grupo, não tem o que calçar.
O pouco do dinheiro que conseguiram que não lhe fosse retirado e doações de pessoas que tomaram conhecimento da situação em que se encontram, é que estão mantendo-os com o mínimo na cidade.
A maioria afirma que o Brasil seria o destino da viagem, entretanto cada um, objetiva cidades e estados diferentes. Nos relatos à reportagem deste Diário, Santa Catarina e São Paulo são alguns desses destinos.
Haitianos estão abrigados com condições mínimas de estadia
Nova Vida
Considerado um dos países mais pobres da América Latina, o Haiti possui cerca de 80% da sua população na pobreza. Além disso, guerras civis e desastres naturais como furações e terremotos agravaram o quadro da ilha localizada na América Central. Muitos haitianos buscam refúgio dessas condições em outros países, sendo o Brasil um dos mais visados.
Soliane deixou os filhos no país caribenho com a esperança de mudar a vida dela e de seus familiares conseguindo um emprego em terras brasileiras. Com lágrimas nos olhos, ela contou ao Diário Corumbaense que a situação no país onde nasceu é muito sofrida e que não pretende ver o sonho dela (e por extensão de toda família) morrer com uma extradição.
Com a filha de dois anos no braço, Mecenat Kensia também vai às lágrimas ao recordar do seu país natal. Ela também se emociona ao lembrar de todo sacrifício durante a jornada de viagem até o momento. Kensia contou que seu marido já está em situação regular no Brasil e segue ao seu encontro após mais de 2 anos sem vê-lo. Quando ele deixou o Haiti, Kensia ainda estava grávida.
No grupo, também há uma pessoa com necessidades especiais. É Jean Figaro, irmão de Sefora, que já se encontra regularizada no Brasil e que foi nossa intérprete entre a língua originária do Haiti, o criolo, e o Português. “Ele precisa de pessoas que possam cuidar dele. A gente sofria com ele longe. Vim aqui para recebê-lo e me deparei com essa situação”, comentou Sefora.
Apoio
O padre Marco Antônio Alves Ribeiro, responsável pela Pastoral da Mobilidade Humana e da Pastoral Scalabriniana de Fronteira, tomou ciência da situação do grupo e, juntamente com demais integrantes da organização religiosa, acompanha o caso dos haitianos em Corumbá.
“A gente veio averiguar a situação e mover a ajuda solidária de toda a cidade para estender a mão a eles, pois não temos recursos, mas fazemos a ponte entre essas pessoas que podem ajudar e também organismos públicos”, disse ao reforçar a mobilização humanitária nesse momento.
Padre Marco Antonio conversa com grupo para poder conseguir auxílio
O grupo necessita de roupas, alimentos, produtos de higiene pessoal e também colchões e ventiladores, já que se acomodam num grande salão improvisado como abrigo. As doações podem ser entregues na própria Pastoral, localizada na Igreja Nossa Senhora de Fátima ou diretamente no abrigo, localizado na rua Joaquim Murtinho, 65, em frente à Igreja do Evangelho Quadrangular.
A Polícia Federal em Corumbá informou a este Diário que está analisando o caso, junto à Superintendência em Campo Grande, para então, tomar as medidas previstas conforme a legislação brasileira.
Nesta manhã ainda o grupo seguiu para a sede do Ministério Público Federal em Corumbá, instituição a quem também pretende recorrer para regularizar a situação no Brasil.
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