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“Trabalho com a crença na gente e na polícia cidadã”, diz delegado

Nelson Urt - Agência Navepress em 14 de Agosto de 2015

Agosto deve ser um divisor de águas na Delegacia Regional de Polícia Civil de Corumbá.  Uma nova metodologia na visão, abordagem e investigações criminais começa a ser implantada com a chegada do novo titular, o delegado Gustavo de Oliveira Bueno. Começa pela forma como encara os índices da criminalidade. “Eu trabalho com a crença na gente, não com estatística”, afirmou o delegado, nesta entrevista ao Diário Corumbaense. “Ninguém procura a polícia pelo amor, mas pela dor, então eu vou procurar me pautar em investigações de qualidade, em pessoas, no público em geral e no público interno, que são os policiais”, acentuou. Policial no local certo, que trabalhe contente, vai prestar um serviço de melhor qualidade, nisso eu sempre acreditei.”

Agência Navepress

Delegado Gustavo Bueno assume comando da Polícia Civil após nove anos de trabalho e afinidade com Corumbá

Na verdade, Gustavo Bueno, de 37 anos, está de volta a Corumbá, onde prestou serviços durante nove anos, ocupando todos os postos da Polícia Civil, teve uma passagem como delegado de Ladário, foi adjunto em Corumbá, até chegar ao posto de delegado titular do 1º Distrito de Polícia Civil. Transferido para Campo Grande, chefiava a Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos quando recebeu o convite para assumir o comando da Regional em Corumbá. Poderia dizer não, mas aceitou o novo desafio que representa o fechamento de um ciclo na sua trajetória. E pesou muito na sua decisão a afinidade criada com a cidade e a população corumbaense e ladarense, onde deixou como marca a transparência e a luta contra a criminalidade, principalmente por meio da prevenção. Suas palestras para estudantes sobre combate a drogas e ao tráfico sempre foram muito requisitadas e apreciadas. E agora não deve ser diferente. “Estamos formatando projetos sociais com palestras de orientação para vários segmentos”, informou. 

Diário Corumbaense – O que muda na Polícia Civil de Corumbá com sua chegada?

Gustavo Bueno – Vou procurar me pautar em pessoas, seja no público em geral ou no nosso público interno, que são nossos policiais. Policial bem alocado, no local certo, contente, vai prestar serviço de melhor qualidade, isso eu sempre acreditei. É essa metodologia que quero implementar. 

DC - Qual o primeiro passo do seu trabalho?

Gustavo Bueno - O que estamos fazendo agora é o mapeamento, um diagnóstico real das frentes de trabalho que vamos atacar, principalmente os tipos de crime, as modalidades que vamos priorizar, vamos primeiramente trabalhar em cima disso. Está sendo feito um levantamento de inteligência muito forte. E isso vai nortear nossas ações em todas as unidades da Regional.

DC - Quais são as delegacias especializadas sob seu comando?

Gustavo Bueno - Temos a Delegacia da Mulher, que tem feito trabalho muito bom, integrado com a Rede de Proteção à Mulher de Corumbá, que é uma rede bem ampla, à frente da temática da violência doméstica. Temos a Delegacia da Infância e Juventude, que teve incremento de efetivo, com uma temática importantíssima que envolve tanto a delinquência infanto-juvenil quanto os crimes relacionados a adolescentes vítimas, os crimes sexuais, crimes de toda a ordem. É uma delegacia especializada e por isso necessita de policiais para esse tipo de atendimento, o que sempre foi feito historicamente, mas a ideia é incrementar até mesmo com fiscalizações. Temos a Delegacia de Ladário, agora mais incorpada pelo incremento de efetivo. E o 1º Distrito de Polícia Civil, que é nossa maior delegacia e onde funciona o plantão integrado. 

DC – Como se deu sua identificação com Corumbá?

Gustavo Bueno - Corumbá foi uma cidade que me recebeu muito bem. Foi onde dei meu primeiro passo na polícia. Sou muito grato a Corumbá, é um local que gosto e onde fiz amigos, e onde me desenvolvi profissionalmente. Então, isso tem um peso, marca a vida da pessoa, do profissional. A cidade tem essa característica de acolher bem. Acho que ter vindo como delegado Regional era um ciclo que precisava se fechar. Eu poderia dizer não, mas foi o que pesou muito ao aceitar o desafio. 

DC – Como é a ligação com sua equipe e outros órgãos de segurança?

Gustavo Bueno - Acredito muito nos profissionais que aqui estão. Acredito nos policiais, no grupo de delegados. Podemos fazer um bom trabalho para Corumbá e toda a região, que envolve Ladário, os distritos. Quero sempre buscar o entrosamento com os outros órgãos. É muito importante numa área como a nossa, principalmente na troca de informações. É fundamental na investigação. Acima de tudo, um bom atendimento ao público gera confiabilidade. E com isso aumenta o fluxo de informações, o povo passa a confiar no policial, e isso a gente vai buscar o tempo todo.

DC - Sua gestão passada à frente do 1º Distrito Policial foi marcada pela prevenção, projetos sociais, palestras em escolas. O enfoque será o mesmo?

Gustavo Bueno - Com certeza. Estamos formatando projetos sociais com palestras de orientação para vários segmentos, desde as escolas, para as crianças, adolescentes, jovens, um trabalho que sempre fiz e acreditei. Isso é muito importante porque aproxima a polícia da comunidade. Queremos uma polícia cidadã. A polícia não dá mais para ser isolada. E esse trabalho de orientação e cidadania é algo que vamos incrementar. Temos aqui um auditório muito bom na sede da Delegacia Regional, com 120 lugares, que será utilizado com palestras, para que a sociedade conheça a Polícia Civil.  

DC – A educação com prevenção permanece sendo sua principal linha de trabalho?

Gustavo Bueno - De fato, queremos ter parceiros entre crianças, desde cedo. Vejam que uma palestra que fiz há sete anos para um menino de 12 anos, hoje ele é um rapaz de 19. E se lá atrás foi bem orientado, hoje ele já conhece a problemática, conhece o melhor caminho a seguir. Essa é a orientação básica, um campo que a gente tem de abrir. Por isso, a Policia Civil tem um papel muito importante, pois trata-se de uma doação do profissional.  

DC – O que o senhor pretende mudar na estratégia da Polícia Civil?

Gustavo Bueno - Queremos aumentar a  capacidade de pronto emprego da Polícia Civil. A Polícia Civil não pode ter um trabalho simplesmente reativo, de apenas reagir ao crime. Mas com um trabalho de investigação, de inteligência, vamos começar a ter ações efetivas, com duros golpes para que (o crime) não prossiga. Em vez de ficar só reagindo ao que aconteceu, vamos aumentar a qualidade dos procedimentos policiais. É um empenho que já está feito, para aumentar a qualidade do trabalho. Queremos formar um inquérito policial forte para que o Ministério Público possa trabalhar. É importante esse conjunto.

DC – Em Corumbá, sabe-se que o maior gargalo é o tráfico de drogas. É possível estourar todas as bocas de fumo?

Gustavo Bueno - Não dá para estourar todas as bocas existentes, mas vamos fazer muitas operações, não só visando as bocas de fumo, mas outras áreas ilegais, por isso o diagnóstico que preparamos é importante, para dar uma visão global, para alocar as energias, que precisam ser canalizadas para o que está de fato impactando a sociedade, com um trabalho em parceria com Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Militar, e outros órgãos de segurança. Temos o problema dos adolescentes infratores, isso requer uma dinâmica com o Judiciário, é uma preocupação ampla de todas as instituições em Corumbá. Além da droga, é alto o índice de roubos e furtos, que gera a engrenagem criminosa, mas quando você quebra essa engrenagem, facilita a investigação.

DC - O senhor é favorável à descriminalização do porte da droga para uso pessoal?

Sou contrário. Isso gera consequência mais danosa, porque você está legitimando a venda. Se descriminaliza, fala que o porte não é crime, então se não é crime é lícita. E aí, vai dar nota fiscal? Como é que vai ser? É um ponto em que as pessoas não visualizaram ainda. Tudo bem transformar o usuário em alvo de saúde pública. Mas isso já acontece. Hoje, ele (o usuário) não vai para o cadeião, com base na nova lei antidrogas, de 2006. Ele (usuário) já recebe outro tipo de tratamento. Mas colocar como não sendo crime, não tem meio termo nessa história, é oito ou oitenta. Se é lícito para quem compra, é licito para quem vende. E como é que fica isso? A gente tem de tomar cuidado com algumas posturas.